sexta-feira, novembro 18, 2011

Cafajestice em crise - BARBARA GANCIA


FOLHA DE SP - 18/11/11

Digamos que Dilma e Merkel não sejam adeptas do bunga-bunga por falta de tempo ou incentivo das amigas
Não sei se estou preparada pa­ra viver em um mundo sem cafajestes. Primeiro leva­ram embora o brincalhão Idi Amin, depois foi a vez do erudito Bokassa. João Figueiredo, pobre homem, te­ve aquela hérnia horrorosa de tanto confraternizar no lombo de seus pares equinos. Depois veio o pro­blema no coração e ele foi tragica­mente nocauteado.

Mais recentemente vimos o que aconteceu com Saddam, outro ho­mem finíssimo que acabou isolado, sem nem mesmo um barbeiro para acudi-lo quando mais precisava. Logo na sequência acompanha­mos, ou melhor, não acompanha­mos coisíssima nenhuma (mesmo porque, ele tem as dimensões de um garçom de festa de criança e su­miu da nossa vista) o que aconteceu com Kim Jong-il. Alguém sabe de­le?

Houve também o probleminha da sodomização por lâmina de faca so­frida por Kaddafi (se você conse­guiu decifrar do que se trata, escre­va para mim expli­cando e eu lhe enviarei um picolé de limão pelo correio como forma de agradecimento).

Hugo Chávez também estrepou-se. Agora passa na base da sopinha de barbatana de tubarão e já não atazana mais os vizinhos. Agora veio mais um para completar o quadro.

"Nel blu dipinto di blu", o grande Sil­vião, rei do bronzeamento artifi­cial, campeão do implante capilar, paladino do jaquetamento dentá­rio e do remodelamento maxilar, rei da pamonha e do botox, ganha­dor do salto com vara na Olimpía­da Sexy Hot, em Oslo, 1958, hexa­campeão mundial de bunga-bun­ga, tendo batido Casanova, Hugh Hefner, Alexandre Frota, Rita Ca­dillac e Angela Bismarchi em um mesmo torneio marcado por histó­rica final contra Ron Jeremy em combinado que incluiu partidas de bridge, palitinho, dominó e sessão de fotos para o site Paparazzi com as garotas russas de programa "Pâ­nico", digo, garotas do programa russo que nem mesmo russas eram, olha, é duro, viu? E eu preciso respirar.

Não estou acostumada a viver em um mundo governado por mulhe­res que não gostam de vida notur­na. Dilmão e Angelão, alemã de temperamento constante e sem grandes sobressaltos, são muito no­vela das oito. Não consigo ver uma ou outra mantendo escravos se­xuais, se entretendo em um bun­ga-bunga interminável regado a dry martinis e pupilas dilatadas ou determinando que seus ajudantes de ordens andem por aí colhendo números de telefone de menores de idade para servirem de possíveis presas.

Você pode alegar que as doces se­nhoras não fazem esse tipo de coisa por falta de tempo, hormônios ou incentivo das amigas. Mas eu des­confio que esse negócio de bunga-bunga só possa ser praticado quan­do se tem em mãos um kit basicão composto por Viagra/uísque/co­caína e que raramente prescinde de um quarto elemento, a cafajestice.

Sem aquela camisa branca para fora da calça jeans, sem seus mo­cassins desprovidos de meias em pleno verão sardo, sem aquele ím­peto de cantar standards interrom­pendo o jantar de garotas cuja apo­sentadoria ele garante, o que é de Silvio Berlusconi?

Agora vem uns tipinhos com mo­dos de moça e discurso de técnico da NET para mandar na Itália. Sei. Enquanto tudo é novidade, a gente finge que acredita que eles sabem separar a hora do expediente do bunga-bunga. Até a próxima crise de credibilidade. "Nel blu dipinto di blu". Cada um segurando o seu pin­cel.

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