FOLHA DE SP - 17/11/11
Neste início do século 21, mais uma vez ela se marca por uma redundância de problemas que vão da crise na Europa do euro, dos movimentos em países árabes -que estão sendo chamados de Primavera Árabe-, de guerras e conflitos localizados a um não saber o que fazer generalizado e medíocre.
Os otimistas sempre encontrarão motivos para citar os "punti luminosi" que foram criados em tantos séculos de história. A filosofia de Platão, a lógica de Aristóteles, a obra de Shakespeare, a "Nona Sinfonia", a genialidade de Leonardo da Vinci, a conquista espacial e os telefones celulares. Tudo bem.
Os pessimistas (que, por definição, estão bem informados) teriam muito mais a citar. A questão é obter uma imagem da colossal geleia que resulta do todo, metendo o bem e o mal num gigantesco liquidificador do tamanho da Terra, que não deixa de ser um misturador de coisas, girando em torno do Sol e de si mesma.
Se fosse escolher uma cena que expressasse tudo isso, eu pensaria numa obra de Van Gogh, de 1885, "Os comedores de batata". É um quadro meio sinistro, mas vital: todos estão comendo o que plantaram, fim de um dia e início de uma noite, um lampião combalido ilumina dramaticamente o rosto de camponeses exaustos. Não é aquela lâmpada enorme e acesa que Picasso colocou em "Guernica", mostrando o quê? A devastação de um bombardeio -corpos e animais decepados, um momento funesto da humanidade.
O lampião de Van Gogh é neutro, não tem opinião, mostra o que deve ser mostrado, todos nós comendo batatas, inclusive as que não merecemos.
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