quinta-feira, novembro 03, 2011

ALBERTO TAMER - G-20 e PIB exigem cautela


G-20 e PIB exigem cautela
ALBERTO TAMER 
 O Estado de S.Paulo - 03/11/11

O Basil entra nesta reunião do G-20 em Cannes menos tenso, uma espécie de tranquilidade relutante diante do agravamento da crise do euro e dos riscos de recessão aqui e lá fora. Não deve se esperar muito desse encontro, que foi esvaziado pela decisão do governo grego de convocar um referendo sobre a ajuda de 130 bilhões. E, nessa expectativa, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira adiou também a captação de 3 bilhões até que a reunião do G-20 acalme as tensões no mercado. Talvez não saia nada até o próximo mês. A tragédia grega pode ser adiada. A expectativa é que o novo presidente do Banco Central Europeu reverta a decisão do seu antecessor e aumente a compra de títulos dos governos mais endividadas da zona do euro. Quando fechávamos a coluna, Nicolas Sarkozy, Angela Merkel e Christine Lagarde estavam reunidos com o premiê Papandreou para ouvir suas explicações e cobrar o cumprimento do acordo que havia sido aprovado. Também no fim da noite já se admitia em Cannes que a Grécia faça um referendo, sim, desde que seja rápido. "Não podemos esperar até janeiro", afirmou uma fonte do FM I. O mercado acalmou, se recuperou das perdas ontem na expectativa de um acordo.

Brasil que se acautele. Mesmo que haja acordo no G-20, que todos prometam comprar títulos do fundo europeu, que tudo seja adiado para dezembro e depois janeiro, a única certeza é que a economia europeia não vai reagir e dificilmente poderá evitar a recessão na qual já está entrando neste trimestre. E, como os EUA também vacilam, não devem crescer mais de 2% este ano. A economia mundial voltará a recuar para menos de 3%.

Brasil também. E aqui vamos nós. Nesse cenário sombrio, imprevisível, o PIB do Brasil também está recuando. Mais, pode até ser negativo neste trimestre, ou ficar em torno de zero, admitem economistas e consultorias. Para os otimistas, mais 0,2%. Uma "recessão técnica", já sinalizada pela queda da produção industrial de 2% em setembro depois de permanecer estagnada nos meses anteriores. E não vai ser fácil reverter esse quadro nos dois primeiros meses de férias, no início do ano, quando a demanda se retrai.

O dilema que não existe. É esse o cenário para as economias mundial e brasileira nos próximos meses. Eles afundam lá fora e as repercussões já são sentidas aqui. Esta é a nova realidade que o governo não pode evitar. Não deve aceitar o dilema que ainda domina a Europa e os Estados Unidos - incentivo ao crescimento, apesar da dívida e inflação. Dilma adiantou em reunião com empresários, antes de viajar para Cannes, que pretende propor na reunião do G-20 "crescimento, investimentos, mais empregos, não mais guerra cambial". Esse é o principal caminho para sair da crise. O Brasil será afetado se a crise se agravar, mas está preparado para enfrentá-la com uma política monetária e fiscal equilibrada.

Mas não chegou? Essa é a pergunta ainda não respondida depois de sinais de recuo no PIB neste trimestre. Os sinais já não estão aqui? Não está na hora de o governo apresentar mais estímulo ao crescimento mesmo porque os anteriores deste ano não deram o resultado que se esperava? Para os economistas menos ortodoxos, juro menor até ajuda, mas será preciso mais para evitar um recuo ainda maior do PIB, algo se aproximando de 2,5%.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, lembrou esta semana que o governo adotou nos primeiros meses do ano uma política de "desaceleração programada". Foi seguida pelo BNDES, que liberou menos recursos até agora. Mas essa política se defronta agora com uma retração da economia mundial mais forte do que prevista. Ele não afirmou, mas deixou claro que é hora de se adaptar a esse novo cenário mundial (e nacional) recessivo, que exige mais investimentos do governo, do setor privado e mais demanda interna. E isso simplesmente porque não há outra alternativa diante da incerteza financeira e a estagnação externa que se agrava lá fora e já está sendo sentida aqui.

Afinal, não é isso que o Brasil vai propor aos países em crise na reunião do G-20? E a i inflação? Ora, diria o Nobel de Economista Paul Krugman, se voltasse ao Brasil, ela estaria sendo administrada pelas medidas provisórias, sim, mas efetivas do governo. Dá para deixar para cuidar dela depois. Agora, a prioridade é voltar a crescer e afastar o risco de recessão que se aproxima.

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