quinta-feira, outubro 27, 2011

RUI NOGUEIRA - Os bolinhos de Laguna e o ministro com validade vencida


Os bolinhos de Laguna e o ministro com validade vencida
RUI NOGUEIRA
O ESTADÃO - 27/10/11

Embora a gota d"água para tirar Orlando Silva do Esporte tenha sido a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela abertura de inquérito para investigar o ministro, a presidente Dilma Rousseff montou na semana passada uma pilha de argumentos para justificar a demissão. As reações e ameaças políticas do PC do B e o apoio do ex-presidente Lula à resistência de Orlando adiaram o desfecho, mas Dilma só usou o STF como carta final de um jogo que estava jogado desde o dia 20.

Em viagem à África, a presidente recebeu dos assessores informações de três tipos: 1) com base em auditorias da Controladoria-Geral da União, feitas em 2008 e 2009, e de relatórios de auditores do Tribunal de Contas da União, a "gestora" Dilma viu que o Esporte padecia de uma "congestão" de convênios com fraudes grosseiras; 2) uma radiografia política mostrou que as únicas ações sob controle do ministério eram os convênios negócio de interesse direto do PC do B, como os da vereadora Karina Rodrigues (PC do B), dona da ONG Bola Pra Frente, de Jaguariúna (SP); 3) uma lupa sobre o organograma e o vaivém de secretários e assessores de Orlando revelou que o ministro havia transformado os cargos executivos da pasta em rodízio de trampolim eleitoral para os "meninos da UNE". Eles abandonaram as universidades para serem empregados comissionados do ministério e "donos"de orçamentos públicos bilionários -o próprio Orlando,Wadson Ribeiro, Ricardo Capelli e Ricardo Gomyde são exemplos de estudantes que não fizeram mais que "cursar cursos".

Com essas radiografias prontas, Dilma desembarcou na noite de quinta-feira em Brasília e, ao final da reunião com o "gabinete de crise", no Alvorada, decidiu o óbvio: tirar Orlando porque estava diante de um "desgaste político irreversível".

Um assessor da presidente leu o Anexo 1 ao Relatório 224.387/2009, da CGU, que descreve o que foi feito com R$ 170 milhões do programa Segundo Tempo. A auditoria atingiu convênios em 18 Estados. Até um leitor desatento tropeça nos "malfeitos": fraudes grosseiras na compra de alimentos, notas frias a granel, dinheiro público depositado em contas privadas e cadastros em duplicidade para inflar o número de crianças atendidas.

O desmando era tão explícito que as crianças e adolescentes de Laguna (SC) chegaram a receber lanches duas vezes por semana, em vez de cinco vezes por semana. Pior: "Os lanches eram entregues por uma van que se deslocava de Brasília para fazer a entrega em todos os núcleos do Estado de Santa Catarina. Um bolinho (fornecido no lanche) chegou aos núcleos com prazo de validade vencido". Assim como a groselha vencida descoberta pela reportagem do Estado, em fevereiro.

Orlando Silva era mesmo um ministro com prazo de validade vencido.

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