Em pleno voo
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 27/10/11
O ministro do Esporte perdeu sustentação e o desfecho ficou óbvio. Mas o problema é estrutural. Ou Dilma Rousseff promove alguma reengenharia nos ministérios, ou irá de crise em crise. Sempre esperando pela próxima explosão.
A administração dela é uma construção herdada. Um governo velho, de presidente nova. Isso já foi tratado aqui, como risco, e os fatos se encarregam de materializar a previsão.
"O que poderia ter sido" não é instrumento de análise política, mas talvez Dilma tenha cedido demais ao continuísmo. Na hora pode ter soado confortável, mas as consequências aparecem agora.
As forças políticas empenhadas na vitória dela tinham essa expectativa. Quem é governo e trabalha para eleger o candidato do governo espera continuar. É humano.
Há maneiras e maneiras de promover essa continuidade. A opção de Dilma foi preservar verticalmente as máquinas. Não mexeu nelas, ou mexeu pouco.
Poderia ter promovido algum rodízio, fazer uma rotação de cabeças para abrir espaço. Manter todo mundo, mas rodar as cadeiras. Para permitir a abertura das porteiras. A oxigenação nos escalões inferiores. Não fez. Porque não quis ou não pôde, tanto faz.
E desde que o mundo é mundo o poder envelhecido apresenta certas características.
Agora Dilma anda às voltas com o desafio de consertar o avião em pleno voo, quando antes poderia ter reparado a aeronave em terra. E o problema não está apenas na remoção dos focos de irregularidades.
Está na dificuldade de exibir marcas novas, de abrir novos horizontes, de mostrar disposição para atacar frentes até agora intocadas.
Pois se as pesquisas mostram alguma folga na imagem presidencial, trazem também desconforto com o desempenho de áreas sensíveis.
Um produto imediato do envelhecimento é o foco numa agenda negativa, que bebe de diversas fontes, inclusive pela abundância de matéria-prima.
Mas há outras razões, inclusive a tendência presidencial a anular os ministros. Eles hoje em dia parecem ter mais medo de errar do que vontade de acertar.
A máquina de produzir notícias positivas, que funcionava tão bem com Luiz Inácio Lula da Silva, parece algo emperrada.
Há alguma lógica nisso, pois Dilma opera a reconcentração de poder numa Esplanada que recebeu pulverizada. E Dilma não é Lula. Não tem a perícia do antecessor na comunicação.
Cada um com suas características, mas de qualquer modo tem faltado à presidente certa habilidade essencial ao governante: montar uma máquina que seja dela e ao mesmo tempo agregue força e brilho à chefe.
Falta certa capacidade de usar em proveito próprio o ativo alheio.
Como andam?Escrevi dias atrás que a crise do Esporte é também uma oportunidade, como diz o chavão.
Que talvez esteja na hora de olhar para o andamento geral das coisas relativas à Copa do Mundo e às Olimpíadas.
Tem sido um problema nas trocas ministeriais. Ministros vão, ministros vêm, mas nunca se olha com atenção específica para o trabalho deles, para além até da busca de possíveis encrencas.
Troca-se o ministro e o trabalho da pasta some do noticiário. Como se o único interesse da sociedade estivesse na regularidade da aplicação do dinheiro.
O Programa Segundo Tempo, por exemplo. Talvez seja boa ocasião para avaliar não apenas se está sendo operado com correção, mas também os resultados.
Ele já tem quase uma década. O que efetivamente produziu? Aliás, o que pretendia produzir? Ninguém sabe, ninguém viu.
Os últimos governos, tucanos e petistas, mais estes que aqueles, foram pródigos em alavancar políticas públicas voltadas à chamada inclusão social.
Uma característica desses programas é distribuir dinheiro público. Pois uma função do Estado é cobrar de quem tem para ajudar quem não tem.
Mas não se vê maior esforço para avaliar resultados e medir o retorno do que foi investido. Uma pena.
A realocação de recursos de programas que não funcionam seria uma bela maneira de achar dinheiro para coisas que eventualmente poderiam funcionar.
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