quarta-feira, outubro 26, 2011

REGINA ALVAREZ - Crescer desigual


Crescer desigual 
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 26/10/11

A economia brasileira, sem dúvida, mudou de ritmo no segundo semestre, apontando uma desaceleração. Mas se olharmos para cada setor os sinais são distintos, pois cada segmento reage a um estímulo. Assim, temos setores que de fato estão encolhendo, enquanto outros crescem e aparecem por razões bem específicas, estímulos internos que pouco ou nada têm a ver com a crise global.
A equipe de análise macroeconômica do Itaú Unibanco acaba de lançar uma publicação, o Orange Book, que ajuda a entender o que se passa nos vários setores da economia real, a partir da visão dos próprios empresários.
O economista Caio Megale observa que os setores que se mantêm aquecidos, como bens não duráveis e serviços, por exemplo, não dependem de crédito nem do câmbio, mas do emprego e da renda, que permanecem estáveis. Já os bens duráveis aparecem em uma escala intermediária de desaquecimento.
- Se estiver com medo de perder o emprego, não vou deixar de ir a um restaurante, tomar uma garrafa de vinho, mas vou pensar antes de comprar uma geladeira, um carro - observa.
Já os investimentos estão sendo fortemente afetados pela volatilidade do câmbio e pelo clima de instabilidade global. A compra de máquinas e equipamentos, caminhões e outros veículos pesados está relacionada diretamente à confiança do empresário. Mas mesmo nesse segmento a sensação que ficou da conversa com os empresários é de postergação e não de cancelamento.
- Se diminuir um pouco a incerteza, os juros menores devem impulsionar a economia - prevê Megale.
A pesquisa revela também algumas ilhas de aquecimento dentro dos setores. A demanda por aluguéis de imóveis comerciais, por exemplo, continua forte porque os investidores estrangeiros permanecem muito interessados no Brasil e alugam espaços comerciais para instalar seus escritórios e firmas.
- Estão fazendo um monte de perguntas, mas o interesse no país continua.
Outro movimento interessante acontece no mercado de trabalho. A dificuldade para contratar mão de obra especializada mantém esse mercado aquecido e os salários, valorizados.

Radiografia da crise
O gráfico abaixo mostra a evolução das dívidas dos países da zona do euro, desde a entrada de cada um no bloco europeu até 2010. No caso de Irlanda e Portugal, a relação dívida/PIB quase dobrou no período. Já o problema da Espanha está no déficit fiscal elevado. Em 2000, estava em 0,9% do PIB e deve fechar em 6,3% do PIB este ano.

Overdose
Mesmo tendo que descascar uma cesta de abacaxis por dia por conta das sucessivas crises no seu governo, a presidente Dilma está o tempo todo ligada nos desdobramentos da crise internacional e sempre que tem oportunidade relata suas impressões aos interlocutores. Na última reunião de coordenação política, ficou 40 minutos discorrendo sobre o assunto. Na saída, um dos líderes reclamou: "E sobre a liberação das emendas parlamentares, que é motivo de crise no Congresso, nenhuma palavra da presidente".

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