Alô, alô, Marco Maia!
JORGE MARANHÃO
O GLOBO - 01/10/11
Como todos os cidadãos sensatos já constataram, depois da internet, não existe mais a comunicação em off. O mundo todo está in. Só não sabe disto a nossa ultrajante classe política que tenta se esconder nas práticas imorais das sessões-fantasma, do voto secreto, do voto simbólico, dos quóruns "regimentais", nas viagens às bases, das missões oficiais, diplomáticas, das simples gazetas e todo um arsenal de mazelas e embromações que abalam a credibilidade das instituições democráticas junto aos cidadãos pagadores de impostos.
Diz o presidente da Casa que vai apurar as denúncias documentadas pelo repórter Evandro Éboli com um simples celular. Cogita mesmo de anular a sessão da CCJ que aprovou 118 projetos em três minutos com apenas dois parlamentares presentes. E ajunta, para o espanto estarrecido dos cidadãos, que a nota oficial da assessoria de imprensa da Casa defendendo o fato não representa a sua opinião e que poderá anular a sessão. É o caso de se perguntar ao deputado Marco Maia se ele preside ou não a instituição e o que ele entende por moralidade como princípio maior da administração pública. Ou mesmo pela conduta exemplar que deve ser seguida pelos membros das instituições de estado para garantir a paz e a normalidade democrática da vida social. Pois tal desculpa esfarrapada afronta o senso comum do mais pacato cidadão! Ou a mãe de família que agora ouviu tamanha infâmia vai desculpar daqui por diante os filhos que resolverem gazetear as aulas? Ou os trabalhadores das empresas privadas vão poder alegar as mesmas desculpas para faltar com suas obrigações sem o devido desconto em seus ordenados?
Alô, alô, seu presidente! Anular a sessão não basta! É prejuízo em cima de prejuízo aos cofres da Viúva! Já não basta o privilégio acintoso de uma semana de trabalho de três dias que nenhum trabalhador tem? Já não são suficientes as mordomias de auxílios, jetons, verbas de gabinete, cotas de serviços e todos os penduricalhos aos subsídios dos nossos parlamentares que vários levantamentos que circulam na internet dão conta como os mais caros do mundo? É preciso restaurar o decoro de suas excelências, senhor presidente! É a sua grande oportunidade de dar um basta aos maus costumes da corporação parlamentar, mostrar a que veio e deixar o marco de sua nobre passagem pela Casa do povo. Sob o risco de que aumentem ainda mais o descrédito institucional do parlamento e a insegurança jurídica de toda a sociedade. Pois sua excelência bem sabe que a violência social é fruto direto da violação legal. E a cultura de impunidade, cinicamente confundida com a prerrogativa da imunidade parlamentar, só contribui para a desmoralização da ação política e das incipientes iniciativas da cidadania brasileira. Do jeito que está, senhor presidente, esta CCJ não é Comissão de Constituição e Justiça, senão de Cambalacho e Jeitinho!
JORGE MARANHÃO é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão.
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