Sobre distorções
EDITORIAL
FOLHA DE SP - 01/10/11
As principais previsões do relatório trimestral do Banco Central sobre a inflação reafirmam o que já se intuía. Há uma chance razoável de estouro do teto de 6,5% da meta para a alta dos preços neste ano. Além disso, a piora da crise econômica nos países desenvolvidos vai dificultar que o país cresça 4%, como almeja o governo.
O aumento da inflação esperada para 2011, de 5,8% para 6,4%, reacendeu as críticas sobre a decisão, tomada pelo Banco Central no fim de agosto, de abater meio ponto percentual da taxa básica de juros, fixando-a em 12% ao ano. Já a previsão de crescimento menor reafirma o entendimento do BC de que o esfriamento da atividade econômica está em curso.
No encontro do FMI, há uma semana, o governo brasileiro demonstrou confiança sobre suas ações recentes. Disse aos investidores que sempre esteve certo -e antes dos outros- no prognóstico pessimista acerca da retomada econômica nas nações desenvolvidas. Enfatizou as "vantagens comparativas" da situação econômica brasileira nesse contexto.
O Brasil, de fato, tem munição para reagir, pois já desfez a maioria das medidas de estímulo emergencial tomadas após o ápice da crise, no final de 2008. O nível de poupança em moeda forte -as chamadas reservas internacionais- e do fundo de contingência para evitar corridas bancárias domésticas supera bastante os indicadores de três anos atrás.
Por fim, ainda há boa margem para cortar os juros básicos.
Como contrapartida para manter a inflação sob controle, membros da equipe econômica asseguraram, em sua passagem por Washington, que desta vez, à diferença do que foi feito em 2008, o governo não embarcará em uma aventura de gastos públicos.
A presidente Dilma Rousseff, discursando ontem em São Paulo, procurou reforçar e completar a mensagem de seus ministros. Numa crítica discreta a seu antecessor, asseverou que o Brasil não pode desperdiçar mais uma oportunidade -novamente oferecida por um quadro de desalento no mundo rico- de corrigir suas distorções macroeconômicas.
A presidente acerta no reparo à gestão Lula, se estiver se referindo ao descasamento entre uma política de gastos desenfreada, do lado fiscal, e uma atitude excessivamente conservadora do BC para baixar juros. Fazer diferente desta vez, portanto, requer uma inversão perfeita dos termos da equação: freio rigoroso nos gastos e impulso no corte de juros.
É importante, contudo, que o governo esteja atento para o comportamento da inflação -e preparado para abortar iniciativas que alimentem altas perigosas de preços. O Brasil não aceita corrigir a distorção dos juros exorbitantes se o custo for o retorno de outra distorção, a inflação descontrolada.
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