Reflexões sobre um jogo ruim
UGO GIORGETTI
O Estado de S.Paulo - 25/09/11
Pela televisão assistia a Grêmio x Botafogo. Êta joguinho ruim! Fiquei pensando: quais as instruções que os técnicos deram a seus jogadores pra jogarem daquele jeito? Aquela ruindade responderia a algum esquema pré-determinado? Os treinadores secretamente odiariam tanto o futebol a ponto de montar táticas que anulassem qualquer resto de criatividade e alegria? Haveria um, ou dois, gênios do mal por trás daquilo? Felizmente o comentarista do jogo era o Batista, da dupla Batista e Falcão, não uma dupla de cantores caipira, mas uma dupla de gênios do meio campo.
Batista, como bom boleiro, não poderia esconder o que via e repetidas vezes testemunhou que o jogo era muito ruim, faltava criatividade e técnica às duas equipes. Continuei pensando no que os treinadores poderiam ter dito no vestiário. Para mim a preleção tática devia ter durado menos de trinta segundos. Por parte do Botafogo acho que o técnico disse: "Vamos jogar atrás e ver no que vai dar. Com a nossa posição na tabela um pontinho ganho aqui já tá de bom tamanho.Vamos lá ,e boa sorte pra todo mundo". Por parte do Grêmio: "Vamos pra cima porque no último jogo tomamos de goleada e esse aqui não dá pra perder. Vamos lá e boa sorte prá todo mundo".
É claro que estou simplificando, talvez porque não entenda nada de táticas e estratagemas de jogo. Vejo o jogo mais ou menos como um torcedor meio burro. Acho que sei quem está jogando bem e quem está jogando mal, mas essa condição pode se inverter rapidamente, porque só vejo o jogo como lances em separado, isolados, individuais. Portanto, quem me agrada num dado momento pode começar a me desagradar por causa de algum lance posterior que julgo insuportável.
Por isso sempre estou do lado da torcida quando acusada de não compreender tal jogador, coitado, que joga para o time e que taticamente é muito útil. Começo o jogo observando esse jogador e tento simpatizar com ele. Vejo que corre, se esfalfa, marca , se desdobra e tem minha simpatia. De repente, porém, executa um lance que me tira do sério, um mísero lance, quase imperceptível, mas que me revela toda sua mediocridade. E toda minha simpatia despenca por água abaixo, por causa desse lance isolado, fortuito, causal.
Mas voltemos a Grêmio x Botafogo. A coisa ia nesse nível, eu tentando me livrar do jogo, procurando ver alguma coisa em outro canal, mas por falta de qualquer manifestação mínima de inteligência que pudesse existir no resto da TV, acabava voltando hipnoticamente para Gremio x Botafogo. Em dado momento, porém, tive se não a prova, pelo menos fortes indícios que minha concepção de futebol não é tão burra assim.
No meio do festival de encontrões a bola sobrou para Maicosuel. Sim, o mesmo Maicosuel que jogou em vários clubes brasileiros. Ele partiu decidido para cima da defesa do Grêmio, rapidamente se desvencilhou de três marcadores desmontando qualquer possibilidade de detê-lo e colocou Loco Abreu na cara do gol. O Loco, que tinha passado o jogo inteiro esperando exatamente uma bola daquelas, com a precisão e segurança de um cirurgião, bateu no canto.
Botafogo 1 x Grêmio 0 e partida liquidada. Para minha alegria não foi a tática, mas apenas a técnica individual de um jogador, que de repente deu o ar de sua graça, que transformou tudo em campo. O Botafogo claramente esperava um empate, mas foi surpreendido pela jogada inesperada e criativa de um de seus jogadores. O Grêmio, por sua vez, não tinha esse jogador e a partida acabou. Lembrei de outros lances assim, como a arrancada de Ronaldo Gaúcho num já distante Brasil x Inglaterra de 2002, quando a inexpugnável defesa do English Team foi destruída por uma devastadora incursão do Gaúcho que deixou três ingleses para trás e jogou a bola para Rivaldo que, como o Loco, deu um tapa para o gol. Que bom! Ainda existe campo, não sei por quanto tempo, para jogadas individuais. Aliás, acho que é por isso que ultimamente estamos vendo tantas equipes com dez ganharem de equipes completinhas com os onze em campo. É que o bom de bola estava no time com dez.
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