O imagine um mundo sem o euro
JOHN KORNBLUM
O ESTADÃO - 27/09/11
O fim da Guerra Fria em 1990 foi um período de preocupação e de celebração.
À medida que os europeus olhavam o futuro, ficavam obcecados com o passado sangrento do continente.
Uma nova Europa e, especialmente, uma Alemanha reunificada poderiam reavivar velhos sentimentos nacionalistas e levariam de novo ao perigo de uma guerra? Desde então, Helmut Kohl, da Alemanha, François Mitterrand, da França, consideraram uma moeda comum essencialmente como um projeto político, que tinha como objetivo consolidar a unidade europeia. Para eles, um mundo sem o euro seria cada vez mais ameaçado pela guerra.
O projeto do euro foi formalizado rapidamente, sem um acordo chave em termos de instituições políticas comuns que transformariam a Europa numa zona econômica unificada.
Em consequência, cada país segue sua própria política econômica: a Grécia gasta, e a Alemanha economiza.
A guerra não chegaria à Europa, como usem o euro. Um prognóstico feito pelo economista de Harvard Martin Feldstein, em 1997, está próximo da realidade.
Segundo ele, a introdução do euro provocaria um grande atrito dentro da União Europeia, porque os problemas para manter uma moeda comum criariam confrontos e um retorno do nacionalismo.
Feldstein estava certo.
Outro temor era que, sem o euro, uma Alemanha reunificada dominaria o continente. Se a Alemanha renunciasse à sua moeda, a França apoiaria sua reunificação - o euro ajudaria a manter Berlim ligada à Europa.
A chanceler Angela Merkel não se cansa de repetir: "Se o euro fracassar, o projeto europeu inteiro estará em risco" quando insiste num outro pacote para Grécia ou Portugal.
Mas nos últimos 20 anos, ocorreu o oposto. Os alemães reformaram sua economia. Sem o euro, a Alemanha seria o país mais poderoso da Europa, mas não teria o multiplicador de uma moeda comum.
Usar o euro foi o equivalente ao uso pelos americanos do seu cartão de crédito até o limite.
Foi a Alemanha que mais aproveitou o esbanjamento de outros países europeus, que absorvem 75% das suas exportações.
Assim, sem o euro, haveria menos consumo e a Alemanha poderia não ter se tornado a potência que é hoje. Mas, haveria uma outra consequência: a Europa poderia não ter contribuído de modo tão fundamental para a crise financeira de 2008.
Os bancos europeus quiseram lucrar muito com o dinheiro que emprestavam à Grécia. Então o que fizeram? Adquiriram centenas de bilhões de dólares em hipotecas subprime e passaram por uma crise real em 2007 e 2008. Os bancos europeus estão afundando novamente, uma vez que a sua exposição à divida soberana de países como a Grécia os ameaça.
É por isso, em parte, que os bancos centrais da Europa e Estados Unidos prometeram injetar mais dólares nos bancos europeus para ajudá-los a pagar o que devem. E é por esta razão também que o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, foi à Polônia para tentar convencer os europeus a tomarem medidas para resolver seus problemas. Ele avaliou muito mal o sentimento entre os ministros europeus.
O erro dele foi achar que os ministros estavam debatendo questões bancárias ou de déficits. Mas na realidade eles estavam falando de guerra e dos temores que motivaram Kohl e Mitterrand.
Esse medo de um conflito interno é o legado da 2.ª Guerra Mundial, que tem pesado sobre a União Europeia desde que nasceu em 1957.
A Europa estaria melhor sem o euro? Talvez. Mas, se o euro não tivesse sido implementado como um projeto político numa Europa que ainda não estava pronta para uma moeda comum, os especialistas provavelmente conseguiriam resolver a situação de maneira rápida. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
FOI EMBAIXADOR DOS EUA NA ALEMANHA DE 1997 A 2001
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