O paraíso não é aqui
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 13/09/11
A classe média vai ao paraíso: às compras nos EUA. Também, pudera. Um casaco que aqui custa R$ 800 sai por US$ 200 (menos de R$ 400) lá. Uma blusa de seda, R$ 500 aqui, US$ 60 lá. Um macacão de bebê, R$100 aqui, US$ 10 lá. Bons lençóis, R$ 600 aqui, US$ 50 lá. Eletrônicos? Nem se fala. A diferença é tão grande que as passagens saem de graça. Então, vai a família inteira – pai, mãe, filhos adultos, crianças, netos. Na volta, as malas enormes e empilhadas são um espanto.
Segundo o BC, os brasileiros deixaram US$ 2,2 bi no exterior em julho. Conforme a Folha, estão em terceiro lugar no ranking de viajantes que mais gastam nos EUA, só atrás dos ricos japoneses e britânicos e sem contar os vizinhos do Canadá e do México. Cada brasuca gasta nos “States”, aquecendo a economia e gerando emprego no país dos outros, uma média de US$ 5.918, 250% a mais que em 2003.
Não são exatamente “turistas”, mas, sim, consumidores. Muitos não viajam mais para passear, conhecer, visitar. Desembarcam direto em lojas, outlets, shoppings “caros”, ruas farofeiras ou descoladas. Não se culpem os brasileiros, porque é legítimo que queiram (queiramos) comprar mais, melhor e mais barato. A revoada consumista é resultado do dólar baixo (ou melhor, do real supervalorizado), dos preços internos exorbitantes, do excesso de impostos/taxas/contribuições. Além da ganância.
E ainda me vêm com essa história de recriação da CPMF?
Depois das manifestações no Sete de Setembro em Brasília, começa a mobilização na internet para novos atos pelo país no dia 20. No Rio, por exemplo, será na emblemática Cinelândia. O grito de guerra é “abaixo a corrupção”. Mas bem que poderia evoluir para “abaixo a corrupção, os impostos astronômicos, os maiores juros do planeta”. Parece mais saudável do que voar o tempo todo para Miami.
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