terça-feira, agosto 09, 2011

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Armínio Fraga e a Bolsa

Armínio Fraga e a Bolsa
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SP - 09/08/11

Economista comenta as últimas da Bolsa no Brasil e a influência de ações do governo sobre os mercados


A BOVESPA sangra faz tempo. Desde o último pico, em novembro, o Ibovespa caiu cerca de 33%. Das Bolsas de ações mais importantes do mundo, é a campeã do tombo.
Investidores daqui e de fora apontam vários fatores para a avaria do mercado de ações brasileiro.
Inflação e, pois, juros em alta reduziram as expectativas de crescimento, dizem -mas a perspectiva de crescimento econômico aqui é muito maior que no mundo rico.
Outra hipótese seria a intervenção do governo em grandes empresas, como Petrobras e Vale, que têm grande peso na Bolsa. Enfim, note-se que os investimentos estrangeiros em ações foram taxados.
Ontem, o Ibovespa caiu mais de 8% -chegou a mergulhar 9,7%.
Algum problema especial e pontual com o Brasil? Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, da Gávea Investimentos, duvida de explicações simples, a quente. "Foi tudo junto [as Bolsas daqui e de fora]. Não dá para explicar tudo", diz.
Numa conversa que começou no final da semana passada, a coluna perguntou a Fraga qual a interpretação para o massacre que vinha acontecendo na Bovespa.
"Sempre difícil dizer. Alguns fatores: problemas recentes de governança [em relação a empresas como Petrobras, Vale e Pão de Açúcar], percepção de problemas nos bancos, impostos sobre investimentos e a natural reação de um mercado que é um dos favoritos e [ainda] líquido", diz o economista.
Fraga também é presidente do Conselho de Administração (conselheiro independente) da BM&F, que tenta lidar com o recente pacote do governo sobre câmbio, que taxou operações com derivativos, negociados na casa. Especialistas no assunto veem grande dificuldade em tornar operacional a taxação.
A BM&F acha que vai chegar a algum acordo com o governo sobre o pacotaço dos derivativos?
"Não estamos buscando acordo. Governo não faz acordo. Sugestões foram apresentadas para melhorar aspectos operacionais e minimizar distorções", diz Fraga.
Dá para implementar o pacote? O que mais está pegando?
Fraga: "Problemas operacionais no curto prazo e sinais antimercado e pró-business (sugiro a leitura do artigo de Zingales: "Capitalism After the Crisis")".
Fraga se refere ao economista e professor da Universidade de Chicago Luigi Zingales, que advoga reformas que reforcem princípios como meritocracia e liberdade; a rejeição das "socializações de prejuízos" e da ideia de que certas firmas sejam "grandes demais para quebrar". Zingales critica o "capitalismo de compadres", a influência indevida de grandes empresas sobre o governo: é isso que o economista de Chicago chama de "abordagem pró-mercado, e não pró-empresas.
E os negócios com derivativos? Vão mesmo migrar para fora?
"Não acontece instantaneamente, mas já está ocorrendo [volume local na Bolsa versos ADR, por exemplo]", diz Fraga.
Qual o maior dano ao mercado que vocês [BM&F] já notaram?
Cedo para dizer, mas a médio prazo a oferta de capital para empresas brasileiras pode se reduzir. Para um país que precisa investir e empreender mais, seria muito ruim. O Brasil ficará mais na mão de grandes grupos locais e multinacionais, como no passado", conclui.

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