O problema Perry de Bernanke
PAUL KRUGMAN
O Estado de S.Paulo
Uso o governador do Texas como símbolo da intimidação política que está matando nossa última esperança de recuperação econômica
No momento em que escrevo isto, investidores de todo o mundo estão ansiosamente à espera do pronunciamento de Ben Bernanke na reunião anual do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em Jackson Hole, Wyoming. Eles querem saber se Bernanke, que é o presidente do Fed, anunciará novas políticas que poderiam tirar a economia americana do que está parecendo, cada vez mais, um estado quase permanente de demanda deprimida e desemprego alto.
Mas eu levarei um susto se Bernanke propuser alguma coisa significativa - isto é, alguma coisa capaz de causar um sério impacto no desemprego ou oferecer algum impulso sério ao crescimento.
Por que não espero muito de Bernanke? Em duas palavras: Rick Perry.
Ok, não pretendo dizer que Perry, o governador do Texas, está pessoalmente bloqueando o caminho de uma política monetária eficaz. Não ainda, pelo menos. Estou usando Perry - que famosamente ameaçou Bernanke com consequências pessoais tétricas se ele der prosseguimento à política monetária expansionista antes da eleição de 2012 - como um símbolo da intimidação política que está matando nossa última esperança de recuperação econômica.
Para entenderem o que estou falando, perguntemos que políticas o Fed realmente deveria estar seguindo neste momento.
Obviamente, a economia americana permanece deprimida, e, em condições normais, poderíamos esperar que o Fed a estimulasse cortando juros. Mas as taxas já estão perto de zero. Então, o que o Fed pode fazer? Bem, em 2000, um economista chamado Ben Bernanke apresentou algumas propostas para uma política no "limite zero". É bem verdade que o estudo estava focado na política do Japão. Mas os EUA estão hoje numa armadilha econômica muito parecida com a do Japão, só que mais grave. Assim é que aprendemos muito ao perguntar por que Ben Bernanke 2011 não está seguindo o conselho de Ben Bernanke 2000.
Naquela época, Bernanke sugeriu que o Banco do Japão poderia colocar a economia do país em movimento com várias políticas não convencionais.
Essas poderiam incluir: compras de dívida do governo de longo prazo; um anúncio de que os juros de curto prazo permaneceriam perto de zero por um longo período; um anúncio de que o banco estava buscando uma inflação moderada, o que estimularia o empréstimo e desencorajaria as pessoas de entesourarem dinheiro; e "uma tentativa de conseguir uma desvalorização substancial do iene".
Estaria Bernanke no caminho certo? Penso que sim - e deveria pensar, já que seu estudo se baseou em parte sobre meu próprio trabalho anterior. Então, por que o Fed não está seguindo a agenda que seu presidente um dia recomendou ao Japão?
A resposta maior passa ao largo da pressão política. No ano passado, o Fed realmente instituiu uma política de comprar dívida de longo prazo, conhecida como "afrouxamento quantitativo". Mas ele enfrentou um tranco político absolutamente desproporcional a seu efeito modesto sobre a economia, culminando na declaração de Perry de que um novo afrouxamento monetário antes da eleição de 2012 seria "quase traiçoeiro", e que se Bernanke fosse em frente e o fizesse, "nós o trataríamos muito mal lá no Texas".
Agora imaginem só a reação se o Fed agisse nas outras e, possivelmente, mais importantes partes daquela agenda de 2000 de Bernanke, mirando uma taxa mais alta de inflação e saudando um dólar mais fraco. Com republicanos proeminentes como o deputado Paul Ryan já denunciando políticas que alegadamente "desvalorizam o dólar", um incêndio político estaria garantido.
Portanto, agora vocês veem por que não espero algum anúncio de política substancial em Jackson Hole. Em 2000, Bernanke acusou o Banco do Japão de sofrer uma "paralisia autoinduzida". Bem, agora o Fed está sofrendo uma paralisia externamente induzida. Aliás, ele tem sido politicamente intimidado a se omitir enquanto a economia estagna. E isso é uma coisa muito, mas muito ruim.
A oposição política aleijou a política fiscal. Em vez de ajudar a criar empregos, o governo está recuando, agindo como um obstáculo à produção e ao emprego. Com o Fed intimidado até a inação, é difícil ver algum fim para o desastre econômico em curso. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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