O espírito da coisa
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 11/08/11
A maior falha do Jobim como ministro talvez se deva à sua envergadura. Se fosse um ministro da Defesa menor vestindo aquela farda de campanha na companhia de militares, como ele fez mais de uma vez, o erro seria menos conspícuo. Escolhendo o traje militar tamanho GG, com camuflagem, para ser fotografado como um membro da tropa, Jobim subverteu o que é, afinal, o significado mais importante de se ter um ministro civil da Defesa: o fato de ele ser um civil.
A criação do cargo de ministro da Defesa como existe em todos os países adiantados do mundo e até em alguns atrasados, foi um dos bons feitos do governo Fernando Henrique. Marcou o fim oficial de uma era em que se lia as ordens do dia dos quartéis para conhecer aquela emanação ominosa, “o pensamento militar”, e muitas vezes o nosso destino político. A distinção entre o chefe civil das forças armadas e seus subordinados de uniforme deveria ser enfatizada até no meio da selva, em vez de sacrificada por uma ideia equivocada de companheirismo ou integração. Acho até que, mesmo em missões no mato, o ministro deveria ir de terno e gravata. E, vá lá, de botas. Mas civis.
O Jobim, vestindo-se como soldado, mostrou que não tinha entendido o espírito da coisa.Ou então estava apenas cedendo a um ímpeto juvenil, e neste caso está perdoado. De qualquer maneira, podemos ter uma certeza. Jamais veremos o Celso Amorim de uniforme de campanha.
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