Câmbio atrelado
CELSO MING
O ESTADÃO - 12/08/11
Uma das moedas que mais se fortaleceram em relação ao dólar e ao euro é o franco suíço. Apenas em agosto, saltou 3,1%, e ao longo deste ano, 18,5%.
Apesar das fortes reclamações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o real não foi tão seriamente atingido na tal guerra cambial como o franco suíço. Em agosto, desvalorizou-se 4,1%, e, só em 2011, subiu 2,8% (veja o gráfico a seguir).
Autoridades suíças se preocupam com a forte valorização do franco, que tira competitividade do produto de exportação. Já levaram o Banco Nacional da Suíça (banco central) a intervir no mercado com compra de euros, para elevar a oferta da moeda e neutralizar, em parte, a escalada das cotações. Como isso tem sido insuficiente, a proposta agora é atrelar o franco ao euro. Se for assim, o câmbio na Suíça deixará de ser flutuante, passará a ser fixo.
É o que a China faz há anos na sua política cambial. Não importa o que aconteça com o dólar, o yuan vai junto, como barquinho amarrado ao navio. É o que garante a competitividade do produto chinês de exportação. Mesmo diante da desvalorização do dólar no câmbio internacional, a produção não fica mais cara em dólares pois sua cotação não muda. Permanece em torno de 6,4 yuans por dólar.
Se essa política deu certo na China e se é o que pretende a ortodoxa Suíça, por que o Brasil não poderia fazer o mesmo?
Não basta providenciar essa amarração por decreto ou canetada. Tomada a decisão, é preciso que o banco central defina a cotação que pretende defender no mercado e, depois, comprar moeda estrangeira sempre que a cotação tender a baixar; ou vender quando tender a subir.
A China não emite moeda para fazer esse jogo por contar com uma impressionante poupança interna, cerca de 51% da renda média da população. O chinês poupa mais da metade do seu salário, deposita nos bancos e eles a recolhem ao Banco do Povo da China (banco central). Essa munição é usada para comprar os dólares que provoquem alta da cotação do yuan.
A Suíça pode, em princípio, providenciar uma cotação atrelada ao euro (euro peg), pois possui uma moeda forte. Poderá usar parte de suas sobras orçamentárias e de francos emitidos. Mas não poderá abusar das emissões porque provocariam inflação. Por isso, as autoridades afirmam que essa mudança na sua política cambial será somente temporária. O problema é que a saída ficaria muito difícil.
Com baixo nível de poupança (17% do PIB), o Banco Central do Brasil teria um estreito campo de manobra se o foco fosse garantir o atrelamento do real ao dólar. É verdade que poderia radicalizar o que já faz hoje, com sua política de ampliação de reservas (câmbio flutuante sujo): poderia emitir reais para comprar dólares excedentes e, depois, retirá-los do mercado com vendas de Títulos do Tesouro Nacional. Mas isso elevaria substancialmente a dívida bruta se o dólar se enfraquecer demais. Para evitar o problema, o governo teria de ter uma disciplina fiscal (redução de despesas públicas) muito mais firme.
O risco maior seria o jogo virar e o mercado global apostar contra o real. Isso, se houvesse uma forte saída de moeda estrangeira. Assim, para sustentar o câmbio fixo, o Banco Central teria de vender reservas. E o atual colchão de US$ 350 bilhões.
O gráfico traz o comportamento das cotações do ouro a partir de julho. Subiram 47,3% no período de 12 meses terminado nesta quinta-feira; 24,3% em 2011 (até esta quinta) e 8,7% apenas nos primeiros nove dias úteis de agosto. Mas, nesta quinta-feira, começaram a baquear: caíram 1,5%.
Tempo de férias. Cairão mais as cotações do ouro caso haja mais confiança na obtenção de uma solução para a crise dos grandes endividados da área do euro. Porém a falta de iniciativa dos dirigentes políticos, alguns deles em férias, dá pouca esperança de uma saída rápida e consistente.
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