domingo, junho 26, 2011

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Comparações

Comparações
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 26/06/11

O escritor argentino Manuel Puig era um notório cinéfilo e certa vez mandou para seu amigo  cubano Guillermo Cabrera Infante uma sugestão de elenco para um filme imaginário sobre a literatura latino-americana em que atrizes famosas fariam os papéis principais. Assim Julio Cortazar seria interpretado por Hedy Lamarr (“Bela, mas fria e remota”, segundo Puig), Carlos Fuentes por Ava Gardner (“Cercada de glamour, mas será boa atriz?”), García Márquez por Liz Taylor (“Rosto bonito mas pernas muito curtas”) e Vargas Llosa por Esther Williams 
(“Disciplinada, mas que chatura”). Puig se incluía no filme, interpretado por Julie Christie, “uma grande atriz, que desde que encontrou o homem certo (na época, Warren Beatty), deixou de atuar”. Puig – que também era notoriamente gay – disse sobre Julie Christie e, presumivelmente, sobre si mesmo que sua sorte no amor causava inveja nas outras estrelas. Não se sabe quem era o Warren Beatty do argentino.
Jogos deste tipo são totalmente subjetivos e cada um pode fazer as comparações que quiser – se bem que comparar o Vargas Llosa com a Esther Williams me parece, por alguma razão, perfeito. Não que o peruano seja previsível e chato, pelo contrário. É que ele mergulha com estilo e nada de frente e de costas numa piscina que ninguém mais frequenta.
Me lembrei de outra lista de comparações, também inteiramente subjetiva, feita pelo Paulo Mendes Campos numa crônica intitulada O Botafogo e Eu, aquela que termina assim: “E a insígnia do meu coração é também (literatura) uma estrela solitária”. Na sua lista o cronista diz que Michelangelo é Botafogo, Leonardo é Flamengo, Rafael é Fluminense, Stendhal é Botafogo, Balzac é Flamengo, Flaubert é Fluminense, Bach é Botafogo, Beethoven é Flamengo, Mozart é Fluminense. Segundo o Paulo “Dostoiévski é Botafogo, Tolstoi é Flamengo (na literatura russa não há Fluminense)”. Baudelaire é Fluminense, Verlaine é Flamengo, Rimbaud é Botafogo. A lista termina assim: “Camões não é Vasco, é Flamengo, Garret é Fluminense, Fernando Pessoa é Botafogo. Sim, Machado de Assis é Fluminense, mas no fundo, no fundo, debaixo da capa cética, Machado, um bairrista, morava onde? Laranjeiras!”. 

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