Champanhe e ópio
JOÂO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/06/11
"....Oscar Wilde morreu em 1900 num quarto do Hôtel d'Alsace, em Paris. E ainda hoje, segundo informações recentes do jornal "The Daily Telegraph", é possível repetir a experiência.
Falo de dormir no quarto, não de morrer nele. O hotel mudou apenas de nome: é simplesmente L'Hotel e fica na rue des Beaux-Arts. Experimente.
Mas o "Telegraph", com generosidade britânica, não se limita a oferecer preços para o quarto (R$ 1.000 a noite). Também oferece a lenda que o acompanha.
Em 1897, Wilde deixou a prisão de Reading Gaol depois de cumprir pena por "graves indecências" com rapazes. Cruzou o canal da Mancha. Instalou-se em Paris.
Mas a doença -não a sífilis, avisa o jornal, mas uma intratável infecção auditiva- começou a galopar pelo seu corpo. A morte tornou-se inadiável.
São conhecidos alguns episódios desse fim. Episódios apócrifos, talvez, como o momento em que Wilde contemplou as paredes do quarto e disse: "Eu e o papel de parede estamos a travar um duelo de morte: um de nós tem de ir".
Mas Wilde lembrou-me Kevorkian, ou vice-versa, pela forma como um e outro encaravam o fim.
No caso de Wilde, as dores eram insuportáveis. A medicação já não funcionava. O que fazer?
O escritor teve a resposta: champanhe e ópio. Haverá melhor forma de amaciar a dor antes da cortina descer de vez? A frase"I'm dying beyond my means", tão perfeita e bela quanto intraduzível, também faz parte da lenda.
Eis a minha posição sobre doenças terminais: quando nada mais resulta, champanhe e ópio. Ou, em linguagem moderna, adormecer a dor para que o corpo, a seu tempo, parta para onde só ele sabe.
...."
Falo de dormir no quarto, não de morrer nele. O hotel mudou apenas de nome: é simplesmente L'Hotel e fica na rue des Beaux-Arts. Experimente.
Mas o "Telegraph", com generosidade britânica, não se limita a oferecer preços para o quarto (R$ 1.000 a noite). Também oferece a lenda que o acompanha.
Em 1897, Wilde deixou a prisão de Reading Gaol depois de cumprir pena por "graves indecências" com rapazes. Cruzou o canal da Mancha. Instalou-se em Paris.
Mas a doença -não a sífilis, avisa o jornal, mas uma intratável infecção auditiva- começou a galopar pelo seu corpo. A morte tornou-se inadiável.
São conhecidos alguns episódios desse fim. Episódios apócrifos, talvez, como o momento em que Wilde contemplou as paredes do quarto e disse: "Eu e o papel de parede estamos a travar um duelo de morte: um de nós tem de ir".
Mas Wilde lembrou-me Kevorkian, ou vice-versa, pela forma como um e outro encaravam o fim.
No caso de Wilde, as dores eram insuportáveis. A medicação já não funcionava. O que fazer?
O escritor teve a resposta: champanhe e ópio. Haverá melhor forma de amaciar a dor antes da cortina descer de vez? A frase"I'm dying beyond my means", tão perfeita e bela quanto intraduzível, também faz parte da lenda.
Eis a minha posição sobre doenças terminais: quando nada mais resulta, champanhe e ópio. Ou, em linguagem moderna, adormecer a dor para que o corpo, a seu tempo, parta para onde só ele sabe.
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