Paixões pela net
WALCYR CARRASCO
REVISTA VEJA SP
Recentemente, eu me surpreendi em uma pesquisa. Descobri que boa parte das donas de casa já incorporou o computador ao seu cotidiano. Elas adoram as redes sociais, que usam para trocar informações, fazer amizades e, é claro, fofocar. As paixões também acontecem, e como! Eu imaginava que as mulheres teriam medo, por exemplo, de marcar encontros com desconhecidos. Puro engano:
— Pela internet, a gente conhece melhor a pessoa. Conversa tudo o que tem para conversar e depois se encontra ao vivo.
Muitas já têm uma história de fadas para contar. É sempre a de uma amiga divorciada, sem perspectivas afetivas, que conheceu um sujeito legal pela internet. Depois de muito papo eletrônico, encontraram-se. E estão juntos até hoje. Sendo sincero, eu também conheço um caso semelhante. Após anos de convívio, o casal continua tão apaixonado que, quando ele a chama, o celular toca a marcha nupcial!
Mas nem tudo são flores.
Eu conheci uma escritora bem atraente, na faixa dos 30 anos. Começou a falar com um “rapaz” pela internet. O relacionamento foi se aprofundando. Finalmente ele confessou:
— Não tenho 30 anos como você.
— Isso não me importa. Quantos você tem?
Silêncio cibernético. Finalmente, confessou:
— Cinquenta e quatro.
Ela continuou achando que estava tudo bem. Encontraram-se. Antes de abraçá-la, ele começou a tossir:
— Sou asmático.
Apaixonada, ia dar importância para asma? Foram adiante. Mas ele tinha um ciúme doentio.
— Para quem você telefonou hoje? O que conversaram?
Ou:
— Quero ler os seus e-mails.
Pior: ele mentira em tudo. Não trabalhava. Estava desempregado havia anos. Foi morar com ela para diminuir as despesas. Controla tudo o que ela faz. O que não é muito: durante uma crise de nervos, ela pediu demissão do emprego. Estão os dois na rua, tentando descobrir um jeito de pagar o condomínio. Outro dia ela ameaçou jogar o computador pela janela!
Perto dos 40, uma amiga andava preocupadíssima.
— Não me casei ainda!
Batalhou pela internet. Conheceu um rapaz da Zona Norte de São Paulo. Marcaram o encontro pessoal. Ela não teve dúvidas: botou um casaco de inverno bem pesado. Mas, embaixo, estava completamente nua. Sinceramente, não sei o que passou em sua cabeça. Talvez quisesse praticar uma sedução à primeira vista. Tipo Cleópatra, que se desenrolou do tapete. Conheceram-se. Era um executivo de nível médio, sério. Irresistível! Ousada, ela abriu o casaco num café do centro da cidade. Só para ele, é claro. E o rapaz ficou encantado pela audácia.
— Finalmente eu me dei bem! — ela acreditava.
Como empresária, pouco tempo depois, guindou o executivo a diretor de seu negócio. Só havia um problema: ele sempre tinha uma desculpa para não levá-la para a casa dele.
— Minha mãe é muito simples, não vai se sentir bem com uma mulher sofisticada como você.
— Justamente agora estamos recebendo a visita de uns parentes, mas...
Um dia ele deixou o computador ligado. Ela não resistiu, entrou em seus e-mails. E lá estavam as... mensagens para a esposa.
— Você é casado!
— E tenho três filhos.
— Ou se separa ou perde o emprego!
Ele se separou. Não sei se por amor ou por praticidade. Mas a vida não anda fácil. Tem de trabalhar o dobro, para sustentar a ex e as crianças. E agora sua mulher pegou ciúme do computador.
Que o rapaz não é fácil, ela já sabe. No passado, bastaria controlar suas idas e vindas. Agora, a tentação pode estar entrando em casa, enquanto com uma expressão inocente ele finge atualizar os e-mails.
Se um dia ela se separar, já sabe. A culpa será do computador!
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