A múltipla 'herança maldita' das eleições
EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 10/05/2011
O termo foi criado no início do primeiro governo Lula para justificar as medidas (corretas) de corte de gastos e elevação dos juros, para defender a estabilização da economia, afetada pela natural reação do mercado ao risco da chegada do próprio PT ao Executivo federal. O dólar disparou e a inflação foi atrás, por inevitável, com a fuga de investidores diante da proximidade da chegada ao poder de um grupo político conhecido pela defesa de medidas radicais como calotes nas dívidas externa e interna, corte de juros por decreto, aumento desregrado de gastos públicos, entre outros delírios.
A primeira reação defensiva do partido e do ainda candidato Lula, diante dos efeitos do próprio veneno, foi, antes da fase final da campanha, em meados de 2002, se comprometerem, na Carta ao Povo Brasileiro, com as regras de uma economia de mercado, sem quebra de contratos e atentados à ordem jurídica. Foi um avanço, mas não o suficiente para conter a fuga de capitais e a remarcação de preços em função da disparada do dólar. Engendrou-se, então, a desculpa da "herança maldita" dos tucanos, para justificar uma política econômica oposta a tudo que o PT e o já presidente da República pregaram.
A ironia é que o termo serve muito bem para designar a relação de problemas deixados por Lula para sua candidata vitoriosa, Dilma Rousseff, com a peculiaridade, também irônica, de a presidente, ministra nos oito anos dos dois mandatos petistas, ser coautora da agenda de dificuldades. No plano macroeconômico, restou para Dilma administrar uma enorme pressão inflacionária, causada basicamente pelo excesso de gastos feitos em 2009 e 2010, com o objetivo declarado de compensar a pressão recessiva decorrente da crise mundial, mas com a intenção oculta de eleger a ministra.
Reportagem do GLOBO acrescentou a esta herança um rastro de obras inacabadas, malfeitas ou sequer iniciadas, e que serviram apenas de palanque para o presidente Lula fazer campanha eleitoral. Na época, era previsível que a falta de limites com que o presidente se lançou à campanha iria prejudicar muito eleitor ingênuo. Fez-se comício em assinatura de contrato, lançamento de pedra fundamental, até em visita a canteiro de obras. A reportagem listou alguns exemplos lapidares de manipulação de obras públicas com objetivo eleitoreiro: no Piauí, o hospital da universidade federal no estado, palco de ensurdecedora fanfarra na campanha petista, não funciona por falta de funcionários; um trecho da ferrovia Norte-Sul, anunciado para ser completado em 20 de dezembro, continua na mesma até hoje; projetos de saneamento e habitação popular para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, "inaugurados" na campanha, ainda estão nas pranchetas. Há, ainda, conjuntos habitacionais inaugurados de fato, mas que, pouco depois de entregues, começaram a apresentar graves falhas de construção. Esta herança deveria ensinar ao eleitor a se precaver quando um governo investe com vigor, sem nada temer por se sentir ungido por alta popularidade, para eleger alguém a qualquer preço.
Serve também de peça pedagógica para a Justiça, por ela não ter feito cumprir a legislação existente a fim de impedir uma disputa desigual em campanha entre situação e oposição. Os tribunais parecem ter temido os índices de aprovação do governo. Erro grave.
A primeira reação defensiva do partido e do ainda candidato Lula, diante dos efeitos do próprio veneno, foi, antes da fase final da campanha, em meados de 2002, se comprometerem, na Carta ao Povo Brasileiro, com as regras de uma economia de mercado, sem quebra de contratos e atentados à ordem jurídica. Foi um avanço, mas não o suficiente para conter a fuga de capitais e a remarcação de preços em função da disparada do dólar. Engendrou-se, então, a desculpa da "herança maldita" dos tucanos, para justificar uma política econômica oposta a tudo que o PT e o já presidente da República pregaram.
A ironia é que o termo serve muito bem para designar a relação de problemas deixados por Lula para sua candidata vitoriosa, Dilma Rousseff, com a peculiaridade, também irônica, de a presidente, ministra nos oito anos dos dois mandatos petistas, ser coautora da agenda de dificuldades. No plano macroeconômico, restou para Dilma administrar uma enorme pressão inflacionária, causada basicamente pelo excesso de gastos feitos em 2009 e 2010, com o objetivo declarado de compensar a pressão recessiva decorrente da crise mundial, mas com a intenção oculta de eleger a ministra.
Reportagem do GLOBO acrescentou a esta herança um rastro de obras inacabadas, malfeitas ou sequer iniciadas, e que serviram apenas de palanque para o presidente Lula fazer campanha eleitoral. Na época, era previsível que a falta de limites com que o presidente se lançou à campanha iria prejudicar muito eleitor ingênuo. Fez-se comício em assinatura de contrato, lançamento de pedra fundamental, até em visita a canteiro de obras. A reportagem listou alguns exemplos lapidares de manipulação de obras públicas com objetivo eleitoreiro: no Piauí, o hospital da universidade federal no estado, palco de ensurdecedora fanfarra na campanha petista, não funciona por falta de funcionários; um trecho da ferrovia Norte-Sul, anunciado para ser completado em 20 de dezembro, continua na mesma até hoje; projetos de saneamento e habitação popular para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, "inaugurados" na campanha, ainda estão nas pranchetas. Há, ainda, conjuntos habitacionais inaugurados de fato, mas que, pouco depois de entregues, começaram a apresentar graves falhas de construção. Esta herança deveria ensinar ao eleitor a se precaver quando um governo investe com vigor, sem nada temer por se sentir ungido por alta popularidade, para eleger alguém a qualquer preço.
Serve também de peça pedagógica para a Justiça, por ela não ter feito cumprir a legislação existente a fim de impedir uma disputa desigual em campanha entre situação e oposição. Os tribunais parecem ter temido os índices de aprovação do governo. Erro grave.
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