Caminho correto
BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/05/11
O MINISTRO da Fazenda, Guido Mantega, não deve se impressionar com as pressões que sofre do mercado. Está correto o caminho que ele segue, preocupando-se ao mesmo tempo com o combate à inflação e com o estímulo ao crescimento da economia. Ele tem apoio de quem trabalha no dia a dia da produção e, desde que assumiu o cargo, há mais de seis anos, é olhado com prevenção por quem vive exclusivamente de juros, especuladores entre eles.As pressões contra Mantega partem de um entendimento equivocado de que a atuação do ministro na condução da economia levou o Banco Central a alterar a política monetária. Em nenhum momento o BC sinalizou que, se necessário, deixaria de usar com rigor os juros para conter a inflação. Aliás, a taxa básica já subiu 1,25 ponto percentual desde a posse de Dilma Rousseff.
Ficou explícito que seriam usadas na luta contra a inflação, além da elevação da Selic, as tais medidas macroprudenciais, como contenção de crédito, compulsórios etc. Isso poderia facilitar os ajustes sem segurar demais o crescimento, sem custos sociais altos (desemprego) e sem onerar ainda mais o Tesouro (os juros da dívida interna custarão quase R$ 200 bilhões neste ano).
Tudo isso é absolutamente razoável e atende à orientação da própria Dilma. Na reunião do conselhão, há duas semanas, ela disse que considera "muito melhor enfrentar os problemas do crescimento do que os do desemprego, da falta de renda e da recessão econômica".
Dilma e Mantega têm dito que é preciso esperar que os remédios já aplicados na economia nos últimos meses façam efeito antes de receitar novas doses, tanto medidas macroprudenciais como aumento dos juros, já que o efeito dos apertos leva pelo menos seis meses para ser sentido na vida real. Aplicar mais remédios antes disso, portanto, exporia o país ao risco da overdose.
Vale lembrar que Dilma e Mantega, ao preservar o crescimento, atendem a compromissos desenvolvimentistas que o partido deles assumiu na campanha presidencial, promessas que certamente renderam milhões de votos à presidente.
As pressões inflacionárias são reais. Elas existem e devem ser enfrentadas com seriedade e com competência. Deve-se considerar, porém, a origem dessas pressões, em grande parte situada em fatores externos, como a alta dos preços das commodities. Neste ano, a variação internacional média do preço das commodities com influência direta na inflação brasileira, segundo indicador criado pelo BC, foi de 9,88%. Mas a tendência já mudou, tanto que em abril houve queda de 1,6% nesse indicador.
É preciso, portanto, evitar radicalismos nessa matéria. Não se pode desprezar a ameaça inflacionária, porque ela é séria e tem origens também internas, mas é desleal fazer terrorismo com ela.
Os economistas não estão seguros sobre se a inflação interna decorre mais do excesso de demanda global ou da ascensão social no país e de um processo estrutural de desajuste na oferta e na demanda de mão de obra. Configurado esse último caso, o uso dos juros terá pouco efeito para segurar os preços.
A ação coordenada do Ministério da Fazenda com o competente BC, sob o comando da presidente, é uma das boas novidades deste governo e precisa ser preservada. Quem está contra isso tem visão imediatista e especulativa.
O setor produtivo, especialmente, tem de apoiar Mantega na busca de crescimento sem inflação. O ministro é um servidor público corajoso, que expressa publicamente o que pensa, procura o diálogo e o debate aberto. Isso é ótimo. Ministros retraídos, que não assumiam publicamente o que diziam em particular, deixaram péssimas lembranças.
É estranho que Mantega leve tantos tiros por defender o desenvolvimento. Ele não merece isso. Em cinco anos no cargo, mesmo com um BC integralmente ortodoxo, que usou os juros sem escrúpulos, conseguiu fazer a economia crescer 23%. É inexplicável que esse trabalho sério tenha, publicamente, poucos defensores. Por que estão mudas algumas vozes que sempre defenderam a produção e o emprego?
Nenhum comentário:
Postar um comentário