O terremoto Strauss-Kahn
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 17/05/11
O escândalo sexual e a prisão do diretor- gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, em Nova York, nesse sábado, não provocaram um terremoto apenas no jogo sucessório da França, como foi prontamente analisado. Trazem, também, o risco de paralisar o FMI, de atrasar as soluções para a crise da periferia do euro e podem interferir, também, na sucessão para a presidência do Banco Central Europeu.
Não se pode esquecer, também, de que o FMI está fortemente envolvido na busca de novas regras para o mercado financeiro internacional. Foi sob a direção de Strauss-Kahn que o FMI passou a admitir a imposição de controles sobre o fluxo de capitais. E foi ele, também, a principal autoridade que convenceu os chefes de Estado do G-20 a intervir na busca de soluções para as crises bancárias.
Conforme as informações disponíveis, um processo dessa natureza contra Strauss-Kahn deverá levar muitos meses. Uma instituição multilateral, como o FMI, não pode ficar acéfala por muito tempo. Terá de definir o mais rapidamente possível seu sucessor.
Houve quem afirmasse prontamente que essa é uma instituição capaz de operar com piloto automático e que não depende das decisões e da atuação do seu diretor-gerente. Mas não foi assim nos últimos meses. Foi muito forte o protagonismo do diretor-gerente à sua frente, especialmente na busca de uma saída consistente para a encalacrada dos países da periferia do euro. Está muito difícil o consenso nessa matéria e o FMI vinha atuando como principal articulador de um socorro abrangente.
Na condição de pré-candidato à presidência da França, Strauss-Kahn estava particularmente interessado numa solução que reforçasse sua liderança. O americano John Lipsky, o número dois do FMI, não tem o mesmo perfil nem a mesma determinação nem a legitimidade de que usufruía Strauss-Kahn. Não parece comprometido nem com as questões europeias nem com o encaminhamento de decisões cujo objetivo último é o fortalecimento do euro. E, na condição de representante dos Estados Unidos na direção do Fundo, muito provavelmente, não seria aceito pelas lideranças europeias como autoridade independente.
Isso significa que uma solução terá de ser encontrada logo. Para isso, será preciso que Strauss-Kahn seja destituído da direção do FMI ou que renuncie a seu cargo. Ambas as saídas enfraquecem sua própria defesa. E, mesmo que essa renúncia chegue rapidamente, será inevitável que se abra ampla negociação global para definir seu sucessor. Essa negociação mais os trâmites exigidos não deverão vir tão prontamente.
Até agora, prevaleceu o consenso de que a direção do Banco Mundial será sempre entregue a um americano (hoje está sob o comando de Robert Zoellick) e a do FMI, a um europeu. Aumentou nos últimos anos a pressão para que o FMI seja liderado por autoridade proveniente de um país emergente. Em outras palavras, há ingredientes novos nessas movimentações.
E, mesmo que a decisão seja manter a tradição de um comando europeu no FMI, é provável que, no caso em que as negociações se restrinjam apenas entre europeus, também envolverão a indicação do novo presidente do Banco Central Europeu, cuja eleição está prevista para junho deste ano.
CONFIRA
Melhor do ano
O superávit comercial (diferença entre exportações e importações) da segunda semana de maio foi de US$ 1,5 bilhão, o maior do ano registrado em uma única semana. O que mais impressionou nos resultados foi a magnitude das exportações, de US$ 5,8 bilhões (as importações foram de US$ 4,3 bilhões).
O peso do petróleo
No período de 12 meses terminados na semana passada, as exportações cresceram 31,2%, enquanto as importações cresceram 26,6%. O maior peso foi dos produtos básicos, especialmente das exportações de petróleo e derivados, cuja média diária cresceu 66,6% em relação à média diária de abril.
Desaceleração
Não dá para garantir a sustentação desse crescimento das exportações. São números essencialmente voláteis. Em todo o caso, já se nota uma redução do impacto das importações. E isso não deixa de ser uma boa indicação de que o consumo interno começa a se desacelerar.
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