Onde anda o juro real
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/11
O BANCO CENTRAL tem difundido de modo recorrente, desde dezembro, a ideia de que considera seriamente a hipótese de recorrer a instrumentos que não a taxa básica de juros a fim de controlar o andamento da economia e, pois, da inflação.
Além do mais, diz que pode ser um desperdício de energia, dinheiro e produção econômica tentar levar a inflação de volta à meta de 4,5% muito rapidamente (a inflação medida pelo IPCA anda pela casa dos 6%, e subindo).
Tal atitude tem provocado muita ira entre os responsáveis por análises econômicas em instituições financeiras e consultorias privadas.
Mas nem tanto entre profissionais responsáveis pela operação do mercado financeiro. Menos ainda entre diretores de instituições financeiras, pelo menos não entre aqueles que não são economistas engajados ou profissionais.
Seja lá qual for o grau de irritação e ranger de dentes no "mercado", seria fato que o Banco Central vai de fato escantear tanto assim a taxa básica de juros, a Selic, como meio de bater na inflação? Lendo e ouvindo o que a direção do BC vem dizendo desde dezembro, e o fazendo com isenção, é a impressão que fica: alta de mais meio ponto percentual.
Mas essa não é a posição mesmo de alguns economistas com posições relevantes em instituições financeiras grandes e, de resto, simpáticos ao modus operandi do BC sob nova administração. Ainda assim, acham que o BC e/ou o resto do governo vão tomar, sim, mais medidas "administrativas", "heterodoxas", "macroprudenciais" a fim de controlar a oferta de crédito ou o interesse em tomar empréstimos.
As medidas baixadas em dezembro seguraram a concessão de crédito, que caiu 7,5% no trimestre encerrado em dezembro (na medida de concessões acumuladas no mês). O impacto maior ocorreu na concessão de crédito para a aquisição de bens (veículos e outros, afora imóveis), que recuou 28% no período.
Mas não foi assim com crédito pessoal (inclusive consignado), cartão de crédito e cheque especial, que fazem mais de 70% da concessão de crédito novo para pessoa física, na estatística do BC. O prazo para financiamentos imobiliários cresce bem (28% em um ano, ante uns 7% no caso de veículos).
O "juro básico" da praça, que forma o custo básico da operação dos bancos, está na mesma faz tempo. Trata-se da taxa real de juros (juros futuros de um ano menos a expectativa de inflação para daqui a 12 meses). Essa taxa, note-se, claro, não é definida pelo Banco Central, mas influenciada pela política monetária.
O juro real "de mercado" anda, como se dizia, em torno de 6,3% ou em torno disso desde novembro de 2010. Aliás, quando o Banco Central resolveu fazer a primeira rodada de aumento da Selic, em abril de 2010, o juro real estava em 6,5%. Desde então, a Selic subiu três pontos percentuais, de 8,75% para os atuais 11,75%.
Não refrescou muito, por aí. Em 2008, pouco antes da crise, o juro real "de mercado" chegava a 9%. Iria a 10% ainda em outubro. O Banco Central foi então muito criticado por se preocupar com o superaquecimento da economia quando o mundo entrava em baita recessão.
Sem que os juros reais aumentem na praça, consumidores e empresários vão continuar a consumir e a investir e não vão poupar mais.
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