Inflação de intrigas e inflação
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 1404/11
O AMBIENTE da política econômica continua conturbado, para não dizer que o alvoroço aumentou durante esta primeira metade de abril.
Trata-se aqui tanto da controvérsia cada vez mais amarga a respeito da política econômica de Dilma Rousseff como das intrigas entre as autoridades da área -tanto as titulares como as desejosas de terem voz decisiva sobre economia.
As medidas de controle da oferta de dinheiro, do crédito, do consumo e da inflação do governo Dilma são o tema da polêmica. Tal debate agora transborda para além do universo paralelo das pessoas que se ocupam de política monetária.
Antes objeto de críticas mais veladas, em geral entre pares economistas, a política "alternativa" do governo Dilma para a inflação agora é vítima de críticas abertas e de avacalhações até em programas de TV.
Em suma, a política do governo é tentar deter a inflação com menos altas de juros e com mais controles "administrativos" de crédito e da oferta de dinheiro na economia.
Apesar da amargura, há economistas de bancões para quem a "nova política econômica" está num rumo certo ou ao menos razoável. Um economista como Pérsio Arida, que não é bem um guerrilheiro da heterodoxia, diz que é difícil prever os resultados de medidas tão diferentes, mas que até "pode dar certo" (mas, se der errado, alerta o mesmo Arida, a correção do estrago exigirá paulada mortal de juros).
"Dar certo", obviamente, é não deixar a inflação sobrevoar o teto da meta oficial e legal de inflação que o BC deve mirar (4,5% no centro, 6,5% no limite máximo).
Note-se, ainda, a respeito dessa querela, a mudança nas projeções de juros feitas pela instituições que mais acertam previsões na pesquisa que o Banco Central faz com o mercado (pesquisa Focus). Em vez de terminar o ano em 12,25%, a Selic iria a 13% (está em 11,75%).
Como nota o relatório econômico semanal da Febraban, "analistas" certeiros acreditam que, mesmo com a continuidade da política "alternativa", o BC não hesitaria em pisar no acelerador dos juros, dada a percepção geral de que o caldo da inflação está engrossando. Pode-se ouvir conversa semelhante de várias pessoas relevantes na banca.
Do outro lado do balcão, a intriga no primeiro escalão do governo voltou a ficar intensa. Os instrumentos de medição da fofoca são obviamente imprecisos, mas é difícil dizer que os querelantes estão quietos como haviam ficado logo em seguida a um chamado público da presidente, em meados de março. Então, havia querela ou boatos de quizila entre os ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda). O primeiro tentaria desautorizar o segundo e sua política.
Bem, as intrigas voltaram. Estão em notas e reportagens em diversos jornais; em "informações de bastidores" (rumores) repassadas a jornalistas. Para piorar, envolvem também o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que contribui explicitamente para a boataria ao criticar em público a política do governo em relação ao câmbio, ao real forte. Na verdade, Coutinho havia figurado na onda de mexericos de março, mas "na margem". Agora, foi ao centro do ringue de rumores.
O ambiente não está bom. A dúvida sobre a inflação ainda vai durar meses. Pelo menos no governo, a intriga poderia ser menor.
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