Crescer
BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/04/11
Além da queda na contratação, há vários outros sinais que mostram o desaquecimento no país
Vamos relembrar dois fatos recentes. O primeiro foi a sinalização da possibilidade de rebaixamento da dívida norte-americana feita pela agência da classificação de riscos Standard & Poor's.
Na prática, o que a agência fez foi avisar o mercado de que passou a considerar mais arriscada a compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A dívida atingiu níveis assustadores, de US$ 14,3 trilhões no fim de março, e já não há 100% de certeza de que será honrada.
O segundo fato ocorreu no Brasil. Foram criados, em março, 92,6 mil postos de trabalho com carteira assinada, um número ainda muito significativo, mas bastante aquém dos verificados em meses anteriores. Em fevereiro, por exemplo, foram 315 mil novas vagas e em março do ano passado, 266 mil. Na prática, essa redução na contratação pode ser sinal de que o ritmo de expansão da economia começou a cair.
O que esses fatos têm em comum? As economias receberam uma espécie de cartão amarelo, um alerta para o risco de que a manutenção do crescimento atual, tanto global como interno, não é segura.
Nos Estados Unidos, a dívida trilionária, que já ultrapassou a barreira de 90% do Produto Interno Bruto, vai ficando impagável e exige um esforço fiscal que parte da população não está disposta a fazer.
Como qualquer outra, a sociedade americana não aceita cortes dramáticos em programas do governo, principalmente na área social, que seriam necessários para reduzir o deficit público de quase 8% do PIB.
No Brasil, que ainda voa em céu de brigadeiro, com índices de endividamento e deficit público muito mais saudáveis, o espírito conservador, que costumo chamar de retranqueiro, é a ameaça que pode promover a indesejável volta de um ritmo lento na atividade econômica.
O professor Delfim Netto, com sua vasta experiência, deu um pito na turma da retranca, que insiste na tese de que o crescimento potencial do Brasil é de 4,3% ao ano.
Ele não aceita truques matemáticos que tentam passar a ideia de que qualquer taxa de expansão do PIB acima desse nível seria perigosamente inflacionária para o país. Essa posição não pode ser confundida com leniência em relação ao perigo da inflação. É possível cumprir os dois objetivos: combater a inflação e estimular o crescimento.
O Banco Central e o seu presidente, Alexandre Tombini, têm mostrado sensibilidade para isso, algo que merece aplauso, embora mantenham a taxa básica de juros em nível elevado -na semana passada, às vésperas do feriadão, a Selic foi aumentada de 11,75% para 12%.
Se o país não prestar atenção nos cartões amarelos que estão sendo levantados, corre o risco de levar um vermelho. Além da queda na contratação, há vários outros sinais que mostram o desaquecimento, do crédito aos investimentos.
Pesquisa da Fiesp, que consultou mais de 1.200 empresas, mostra que caiu cerca de 5% a intenção de investimentos da indústria de transformação. O setor está muito preocupado com redução de custos, em razão das elevadas taxas de juros e da implacável concorrência de produtos importados.
É saudável a preocupação da indústria com a busca de maior eficiência na produção, mas essa estratégia defensiva não pode sobrepujar o esforço de investimento para ampliação de produção.
A redução da intenção de investir do setor privado é uma péssima notícia. A confirmação dessa tendência pode redundar, no médio prazo, em desequilíbrio entre oferta e procura, cuja consequência será ou inflação ou aumento ainda maior da presença de produtos importados para atender a demanda.
A opção que temos no Brasil, infelizmente ainda pobre, é crescer ou crescer. O marasmo que caracterizou a última década do século passado, quando o país se contentou com índices medíocres de crescimento econômico, não pode voltar.
Os EUA, país rico, com uma renda per capita anual de US$ 47 mil, pode se dar ao luxo de tomar cartões vermelhos, desaquecer a economia e até conviver com recessões.
Aqui, com renda em torno de US$ 11 mil e enormes diferenças regionais, precisamos acelerar sempre, com os demais emergentes.
BENJAMIN STEINBRUCH, 57, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
Na prática, o que a agência fez foi avisar o mercado de que passou a considerar mais arriscada a compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A dívida atingiu níveis assustadores, de US$ 14,3 trilhões no fim de março, e já não há 100% de certeza de que será honrada.
O segundo fato ocorreu no Brasil. Foram criados, em março, 92,6 mil postos de trabalho com carteira assinada, um número ainda muito significativo, mas bastante aquém dos verificados em meses anteriores. Em fevereiro, por exemplo, foram 315 mil novas vagas e em março do ano passado, 266 mil. Na prática, essa redução na contratação pode ser sinal de que o ritmo de expansão da economia começou a cair.
O que esses fatos têm em comum? As economias receberam uma espécie de cartão amarelo, um alerta para o risco de que a manutenção do crescimento atual, tanto global como interno, não é segura.
Nos Estados Unidos, a dívida trilionária, que já ultrapassou a barreira de 90% do Produto Interno Bruto, vai ficando impagável e exige um esforço fiscal que parte da população não está disposta a fazer.
Como qualquer outra, a sociedade americana não aceita cortes dramáticos em programas do governo, principalmente na área social, que seriam necessários para reduzir o deficit público de quase 8% do PIB.
No Brasil, que ainda voa em céu de brigadeiro, com índices de endividamento e deficit público muito mais saudáveis, o espírito conservador, que costumo chamar de retranqueiro, é a ameaça que pode promover a indesejável volta de um ritmo lento na atividade econômica.
O professor Delfim Netto, com sua vasta experiência, deu um pito na turma da retranca, que insiste na tese de que o crescimento potencial do Brasil é de 4,3% ao ano.
Ele não aceita truques matemáticos que tentam passar a ideia de que qualquer taxa de expansão do PIB acima desse nível seria perigosamente inflacionária para o país. Essa posição não pode ser confundida com leniência em relação ao perigo da inflação. É possível cumprir os dois objetivos: combater a inflação e estimular o crescimento.
O Banco Central e o seu presidente, Alexandre Tombini, têm mostrado sensibilidade para isso, algo que merece aplauso, embora mantenham a taxa básica de juros em nível elevado -na semana passada, às vésperas do feriadão, a Selic foi aumentada de 11,75% para 12%.
Se o país não prestar atenção nos cartões amarelos que estão sendo levantados, corre o risco de levar um vermelho. Além da queda na contratação, há vários outros sinais que mostram o desaquecimento, do crédito aos investimentos.
Pesquisa da Fiesp, que consultou mais de 1.200 empresas, mostra que caiu cerca de 5% a intenção de investimentos da indústria de transformação. O setor está muito preocupado com redução de custos, em razão das elevadas taxas de juros e da implacável concorrência de produtos importados.
É saudável a preocupação da indústria com a busca de maior eficiência na produção, mas essa estratégia defensiva não pode sobrepujar o esforço de investimento para ampliação de produção.
A redução da intenção de investir do setor privado é uma péssima notícia. A confirmação dessa tendência pode redundar, no médio prazo, em desequilíbrio entre oferta e procura, cuja consequência será ou inflação ou aumento ainda maior da presença de produtos importados para atender a demanda.
A opção que temos no Brasil, infelizmente ainda pobre, é crescer ou crescer. O marasmo que caracterizou a última década do século passado, quando o país se contentou com índices medíocres de crescimento econômico, não pode voltar.
Os EUA, país rico, com uma renda per capita anual de US$ 47 mil, pode se dar ao luxo de tomar cartões vermelhos, desaquecer a economia e até conviver com recessões.
Aqui, com renda em torno de US$ 11 mil e enormes diferenças regionais, precisamos acelerar sempre, com os demais emergentes.
BENJAMIN STEINBRUCH, 57, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
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