LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 13/03/11
– Gugu! – exclamou o Plínio.
– Que coisa. Como eu fui me esquecer dela?
– Quem?
– E sonharam?
– Claro que não. Mas mentimos que sim. Depois veio a ... a ... Sulamita!
– Você namorou uma Sulamita?!
– Espera. Preciso fazer uma lista.
Plínio saiu atrás de papel e caneta. Pronto, pensou a mulher. O Plínio encontrou uma ocupação.
– Não sei, acho que é uma espécie de...
– Não importa. A pele da Liselote era de alabastro. Namoramos durante anos. Um dia fizemos um pacto suicida mas eu levei tanto tempo para escrever o bilhete que ela achou que era má vontade e o namoro acabou. Depois da Liselote, então, veio o sexo animal! Com a, a ... Como era o nome dela? Marina. Não, Regina. Cristina. Isso, Cristina. Ficamos noivos. Um um dia ela me viu descascando uma laranja e teve uma crise. Por alguma razão, o meu jeito de descascar uma laranja desencadeou uma crise. Ela disse que não podia se imaginar casada comigo, com alguém que descascava laranja daquele jeito. Mandaram ela para a Europa, para ver se ela se recuperava. Nem sei se foi laranja. Alguma coisa que eu fazia. Depois dela, deixa ver... Mercedes. A boliviana. Baixinha. Grandes seios. Vivia cantarolando. Não parava de cantarolar. Um dia eu reclamei e ela atirou um vaso na minha cabeça. Depois, depois...
– Não teve uma Isis?
– Isis! Claro. Eu falei da Isis pra você? Era corretora de móveis. Bem mais velha do que eu. Foi quem me ajudou a escolher o escritório. Não chegou a ser namoro. Fizemos sexo de pé em várias salas vazias da cidade, e ela nunca chegou a tirar o vestido. Grande Isis... Olha aí, até que não foram muitas. Gugu, Sulamita, Liselote, Cristina, Mercedes a boliviana... Ah, teve uma, eu já contei? Uma que miava quando a gente estava na cama. Miava! Me chamava de “Meu gatão”, toda melosa, e miava. Já pensou, o ridículo? Como era o nome dela?
– Era eu, Plínio.
– O quê? Não. O que é isso?
– Era eu.
– Não era não. Que absurdo. Nós, inclusive, não transamos antes de casar.
– Transamos, namoramos, e eu miava porque você pedia.
– Era outra pessoa.
– Era eu, Plínio. Bota o meu nome na sua lista.
– Não. Nem sei por que eu comecei esta bobagem...
– E quer saber de uma coisa? Não é o seu modo de descascar laranja, Plínio. É o seu modo de chupar laranja. A Cristina tinha razão. Não sei como eu aguentei todos estes anos. A Cristina tinha razão!
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