Crise não afeta a produção, afirma Gabrielli
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/02/11
"Afetar a produção não afeta absolutamente nada. A indústria de petróleo é de longo prazo. Não podemos nos mover pelos fenômenos de curto prazo", diz Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, quando indagado sobre desdobramentos da crise em países árabes para a indústria do petróleo.
"Há capacidade ociosa, particularmente na Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], talvez 4 milhões, 5 milhões de capacidade diária, que é só conectar poço, que está pronto. Você pode em dois ou três meses aumentar bastante a oferta na Opep. Fora da Opep, é difícil, pois quase não há capacidade ociosa. Não falta petróleo hoje", diz.
Gabrielli participou do Energy Summit, reunião dos CEOs das grandes empresas do setor no mundo, que ocorreu em paralelo ao Fórum Econômico Mundial, na Suíça, no final de janeiro.
"Não posso dizer quais presidentes estavam presentes, mas estavam quase todos. O consenso é muito claro. Não podemos nos mover pelos fenômenos de curto prazo. Se nós tivéssemos, em julho de 2008, tomado decisões de investimento quando o petróleo foi por dez minutos a US$ 147 o barril, e chegou a US$ 33 em dezembro de 2008, nós estaríamos mortos, porque nem podemos considerar US$ 147, nem US$ 33", afirma.
Para Gabrielli, o preço do petróleo não está elevado.
"Agora não está altíssimo [o preço do barril]. Está em torno de US$ 96 e US$ 99 [o Brent], mas, na média de 2010, está US$ 79, menos do que estava em 2007."
Rumores em relação à redução da produção de petróleo devem-se muito à especulação com a commodity, diz.
"A imprensa internacional tem falado de redução da produção, mas o preço atual está muito motivado pela transformação do barril de petróleo em uma commodity financeira. Com a taxa de juros baixa e com liquidez grande no mercado, o investidor está buscando retorno e aplica em petróleo, não por causa do petróleo, mas na expectativa de ganhar no curto prazo. É um processo normal, mas a indústria não se move por isso."
A Petrobras continua a analisar seus projetos entre US$ 65 e US$ 85 o barril, segundo Gabrielli.
A demanda no Brasil por derivados não deve crescer tanto neste ano, mas o país continuará a importar "diesel, gasolina, GLP e querosene de aviação até que a primeira refinaria, em muitos anos, fique pronta em 2012, em Recife."
Petrobras reúne-se com fornecedores
Sérgio Gabrielli tem se reunido com fornecedores em várias capitais para incentivar o aumento da produção nacional de máquinas e peças destinadas à exploração de petróleo e gás.
As primeiras visitas foram a Salvador e São Paulo, onde haverá uma segunda reunião. Na semana que vem será a vez de Fortaleza. Na seguinte, Porto Alegre.
"Em fevereiro e março nos dedicaremos a isso. Ainda vamos a Florianópolis, Santos, Rio, Recife e Vitória discutir com a cadeia de fornecedores as perspectivas de crescimento", diz.
Cerca de 18 mil empresas brasileiras forneceram para a Petrobras e venderam R$ 38 bilhões ao ano nos últimos três anos, segundo Gabrielli.
"A Petrobras havia solicitado 65% em média, era a meta [de conteúdo nacional]. Mas as compras foram de 67%. Na P-57, a meta era 68,5% e tivemos 75,6%. Em 2003, havia sido 57%."
As reuniões devem identificar estrangulamentos, estreitar a relação com produtores e fornecedores e acelerar processos, afirma.
Sobre a queixa de empresários de que é difícil fechar negócio com a Petrobras e de que as decisões são lentas, ele cita a documentação.
"Às vezes, não conseguem fornecer pois não conseguem rastrear produtos. Há também aquelas com problemas com INSS, FGTS, Receita."
O presidente da companhia diz que o alvo é o pequeno fornecedor.
"O grande não tem esse problema, mas ao aprofundarmos a política de conteúdo nacional, chegamos ao pequeno. Passamos a ter estaleiro nacional, aí precisa de equipamento. Chegamos ao fornecedor da mola da fechadura da porta do convés."
A companhia tem feito "um esforço enorme de nacionalização", diz. "Mas é preciso que o investidor assuma o risco do seu investimento. Não faremos fábrica de parafuso. O investidor de parafuso que faça. Nós mostramos a ele a demanda pelos produtos até 2014 no site."
"Há R$ 8 bi em fundos à espera da CVM"
O presidente da Petrobras afirma que o país tem R$ 5 bilhões de patrimônio líquido em fundos de direitos creditórios na cadeia de óleo e gás.
"Só estão sendo usados R$ 800 milhões. E há R$ 8 bilhões em fundos de investimento, além dos R$ 5 milhões, esperando autorização da CVM", diz Gabrielli.
NO COFRE
Mais de 40% dos moradores da região metropolitana do Rio tiveram sobra no orçamento depois de todas as contas pagas, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ realizada em janeiro.
Cerca de 40% estão com orçamento equilibrado. Para 17,9% a receita foi insuficiente. Entre os que tiveram sobra orçamentária, 36% pretendem guardar para consumir um bem no futuro.
A metade dos entrevistados afirmou ter algum dinheiro guardado, maior percentual desde abril de 2006.
Em janeiro, 54% pretendiam aumentar a poupança.
com JOANA CUNHA , ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION
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