Essa rua
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 03/02/11
Quando Gamal Abdel Nasser e outros jovens oficiais tomaram o poder do rei Farouk em 1952, substituindo uma monarquia teocrática corrupta por uma república laica e progressista, foi com escasso apoio da Irmandade Muçulmana, que acabou rompendo com a revolução. Em vez de uma aliança religiosa na região, Nasser propunha uma pan-Arábia anti-imperialista, e era isso que assustava o Ocidente, então. Hosni Mubarak foi (se é que já se foi) um autocrata, mas seu DNA político vinha direto do Nasser. Era um Nasser despótico, acomodado com o Ocidente, mas um sucessor assim mesmo. E agora o medo do Ocidente é que sua derrubada leve fundamentalistas islâmicos ao poder no Egito, apesar da evidência de que sua participação no levante não é predominante. E o Ocidente sente saudade do Nasser que combateu há quase 60 anos.
Mais uma da velha senhora irônica, a História.
De qualquer maneira, esse negócio vai ficar interessante mesmo quando a revolta chegar ao outro grande centro do poder árabe na região, uma das últimas monarquias absolutas, e certamente a mais repressora do mundo, a Árabia Saudita. Essa “rua” sublevada que começa na Tunísia e passa por Argélia, Egito, etc.
ou também passa pela Arábia Saudita ou não leva a nada muito novo.
BINDU
Se fizessem um plebiscito, você escolheria viver num Universo em expansão ou num Universo em contração? Não faria muita diferença a curto prazo, pois os efeitos das duas possibilidades – um Universo que continuará a se expandir como vem fazendo desde o Grande Pum ou um Universo que começará a se contrair até eventualmente voltar ao ponto de origem – só serão conhecidos daqui a alguns bilhões de anos. São duas possibilidades reais. A expansão provada do Universo significará que eventualmente as galáxias que hoje observamos aqui da nossa desaparecerão, pois a luz das suas estrelas não chegará nem ao melhor telescópio concebível, e os astrônomos do futuro só conhecerão o Universo que hoje vemos de ouvir falar. No caso da contração – bem, todos nos encontraremos de novo no lugar do primeiro estouro, que pode muito bem se repetir e ser a origem de outro Universo.
Na filosofia tântrica existe a palavra “bindu”, o ponto onde o espaço interno e o externo se encontram, onde tudo tem sua origem e tudo termina. O Universo pode ser apenas uma encenação do “bindu”, o que dispensa maiores explicações. Como a linguagem simbólica da Bíblia, o movimento das galáxias também seria simbólico. Ou imaginemos que seja construído um supercomputador capaz de decifrar todos os mistérios do cosmos e que ele seja alimentado com tudo que se sabe e se especula sobre o Universo. No fim de alguns minutos perguntam ao computador se ele chegou a uma resposta. “Sim”, responde o computador.
E qual é? O computador hesita, depois diz:
– Vocês não entenderiam...
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