segunda-feira, fevereiro 14, 2011

GEORGE VIDOR

Embraer dos mares

GEORGE VIDOR
O GLOBO - 14/02/11
Tratando-se dos negócios que Eike Batista e suas empresas se envolvem tudo tem de ser superlativo ("não faço puxadinho", diz ele). Agora que se aproxima a data da produção de petróleo nos poços que o grupo, por meio da OGX, descobriu em águas rasas na Bacia de Campos - gerando a tão esperada receita pelo mercado -, Eike volta suas atenções para o futuro estaleiro do Açu.

Se as licenças ambientais saírem no tempo previsto, as obras do estaleiro começarão em maio, com a dragagem de um canal e um "piscinão" que serão margeado por oito quilômetros de cais, com uma profundidade que possibilitará a atracação de grandes navios. Nessa área (o Açu fica em São João da Barra, Norte Fluminense), Eike pretende instalar o que há de mais avançado em construção naval no mundo, partindo da tecnologia coreana (fornecida pela Hyundai), e em seguida ir além, com a criação de um instituto de pesquisa com o propósito de formar "a Embraer dos mares".

Afirma, com razão, que o Brasil tem pela frente uma enorme demanda por navios, plataformas e embarcações de apoio à indústria do petróleo e seria um desperdício perder essa oportunidade. No Açu, seu grupo se propõe a gerar energia elétrica a custos mais baixos, com usinas que queimarão inicialmente gás natural, e o estaleiro aproveitará chapas de aço que deverão ser fabricadas lá mesmo, maiores que as habituais, de modo que os navios poderão ser feitos mais rapidamente, com menos soldas.

Se os planos de Eike derem certo, a siderúrgica (ou as siderúrgicas, pois há espaço para uma segunda planta industrial) produzirá chapas de aço também para uma nova montadora de automóveis, igualmente a custos mais baixos. Com o porto do Açu, os veículos chegariam aos principais mercados brasileiros transportados em barcaças roll on roll off que reduziriam o preço do frete em cerca de US$300 por automóvel.

Há alguns anos Eike fez uma investida infrutífera nesse setor: chegou a fabricar um utilitário, tipo jipe, chamado JPX, que não fez menor sucesso. Mas dessa vez ele acredita que atrairá uma conhecida companhia capaz de produzir um carro inteiramente concebido no país, com marca brasileira e adaptado, principalmente, às preocupações crescentes com o meio ambiente.

Na semana passada Eike anunciou que mais uma empresa do seu grupo X, que vai explorar carvão na Colômbia, lançará ações no mercado internacional de capitais. Carvão esse que será exportado para o Brasil e em parte para os Estados Unidos. Como nas suas demais empresas, Eike espera compartilhar o projeto com investidores estratégicos, captando cerca de US$1,5 bilhão no mercado.

Entrevistei Eike Batista para o Conta Corrente Especial, na Globonews, e o programa foi apresentado neste último fim de semana (é provável que seja reprisado na madrugada de quinta-feira). O local da entrevista foi a sala de reuniões da diretoria da EBX, holding do grupo, na Praia do Flamengo, com vista para o Pão de Açúcar e a Baía de Guanabara. A meu pedido, o cão Eric, um pastor alemão trazido da República Tcheca, e que agora acompanha o empresário até no trabalho, ficou na sala, quietinho, deitado próximo a nós. Eric até participou da gravação da chamada do programa (é ultraobediente, foi treinado para atender a 20 diferentes ordens, pronunciadas em alemão). Quando souberem disso, meus cachorros petropolitanos vão morrer de ciúme.

No segundo semestre o Rio Madeira será desviado a 130 quilômetros do centro de Poeto Velho para conclusão da barragem de Jirau. A usina, que terá uma potência de cerca de 3.500 megawatts, contará com duas casas de força, uma na margem direita e outra na esquerda. De um extremo a outro da barragem a distância chega a oito quilômetros (na inauguração está prevista uma minimaratona no caminho que passará a existir sobre ela).

O consórcio construtor é o mesmo, mas há uma disputa saudável entre os grupos que estão trabalhando nas duas casas de força. Ganhará quem gerar energia primeiro, no ano que vem.

Décadas de ameaças da guerrilha e dos cartéis do narcotráfico provocaram uma fuga de capitais da Colômbia que alguns especialistas estimam em US$75 bilhões (valor equivalente ao da dívida externa do país). Perdas consideráveis em aplicações do tipo Madoff (cujos prejuízos chegaram à casa de dezenas de bilhões), desvalorização de ativos financeiros decorrentes nos mercados internacionais e uma gradual volta à normalidade em seu país têm levado muitos colombianos a repatriarem capitais. Com mais de 60 empresas negociadas e aproximadamente 119 mil investidores pessoas físicas cadastrados (no Brasil o número de CPFs registrados nos sistemas de custódia de ações passa de 600 mil), a Bolsa de Bogotá acumulou alta superior a 30% em 2010. A rentabilidade dos fundos de renda fixa lá anda em torno de 7% ao ano.

A Bolsa de Bogotá adquiriu a de Lima (Peru) e vai se integrar a de Santiago. Dentro dessa perspectiva, a maior corretora colombiana (InterBolsa), que detém um terço das operações na Bolsa de Bogotá, veio também para o Brasill. É a primeira vez que uma corretora sul-americana participa diretamente do mercado de capitais brasileiro. "Até recentemente, se quiséssemos comprar um bônus do Tesouro ou de uma empresa brasileira tínhamos que operar por algum banco de Nova York ou Londres. Não havia contato algum entre os mercados de capitais brasileiro e colombiano. Espero quebrar essa barreira", diz Maurício Infante, presidente da gestora de fundos da InterBolsa.

Um acordo com o Banco do Brasil permitirá que a BB DTVM adquira fundos da Interbolsa na Colômbia, e esta, por sua vez, será o canal de aplicação de investidores colombianos nas carteiras de fundos administrados pela distribuidora do BB.

A propósito, é grande a expectativa da InterBolsa com o lançamento de ações da STX, companhia de Eike Batista que tem os direitos de exploração de minas de carvão na Colômbia.

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