Agora ou nunca
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/02/11
A Câmara reabre hoje com 513 deputados, mais de 20 partidos representados, 18 mil funcionários, 20 comissões temáticas permanentes, mais de 40 provisórias e 551 jornalistas credenciados. Sem falar que a própria Câmara tem TV, rádio, site, Twitter e jornal distribuído pelo país inteiro.
Um mundo, como se vê. Ali são produzidos 20 mil e aprovada uma média de 250 proposições ao ano (incluindo plenário e comissões), muitas dizendo respeito ao presente e ao futuro da nação.
Há, porém, três obstáculos para que esse mundo seja plugado ao mundo real, onde vivem os brasileiros que comem, moram, trabalham, produzem e... votam.
O primeiro é que os escândalos ainda dominam o noticiário político, e a prioridade nacional parece ser a ética e o combate à corrupção. O segundo é que o Executivo (desde sempre) e o Judiciário (cada vez mais) invadem a seara legislativa. E o terceiro é um desajuste da pauta: como falar em novos projetos sem antes discutir a sério as reformas política, tributária e trabalhista?
Dilma já deixou claro que não vai conduzir o debate sobre as reformas e jogou a articulação com o Congresso nas mãos do trio Temer, Palocci e Luiz Sérgio. Por um lado, isso é bom: o Executivo executa, o Legislativo legisla.
De outro, é ruim: num presidencialismo como o brasileiro, nada anda sem o patrocínio explícito do governo.
Fernando Henrique Cardoso gastou seus cartuchos logo após a posse para aprovar reformas que nove entre dez políticos achavam impossíveis, como a quebra dos monopólios do petróleo, da telefonia e da mineração. Luiz Inácio Lula da Silva garantiu remendos na Previdência e no regime tributário já no seu primeiro ano, e vem daí a contribuição dos inativos.
O governo é novo, e os deputados estão doidos para mostrar a que vêm.
Ou a Câmara vota reformas já ou não vota mais. A melhor aposta é que não vota nunca.
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