As novidades do Copom
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 17/12/2010
O Banco Central passou ontem o recado de que será necessário mais tempo para avaliar se os juros precisam subir para empurrar a inflação para dentro da meta. A impressão é a de que os juros básicos (Selic) não subirão antes da reunião agendada para 2 de março.
Essa posição pode ser deduzida da ata do Copom ontem divulgada. O documento é um dos instrumentos mais importantes por meio dos quais o Banco Central conduz sua política de formação de expectativas em relação ao comportamento dos preços.
A situação geral é nova. Não tem a ver com a mudança de governo ou com os remanejamentos de diretores do Banco Central, como alguém poderia imaginar. Tem a ver tão somente com a nova virulência da inflação e com as decisões tomadas dia 3 de dezembro, que aumentaram o recolhimento compulsório dos bancos (portanto cortaram a ração de dinheiro das instituições financeiras) e restringiram o crédito.
Como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já havia avançado, essas não são decisões de política monetária, ou seja, não são decisões que tenham por objetivo direto controlar a inflação. São "medidas macroprudenciais", destinadas a evitar a formação de bolhas financeiras e equipar melhor os bancos para enfrentar eventual crescimento da inadimplência entre seus tomadores de crédito.
No entanto, elas também produzem efeitos que interferem na formação de preços. Na medida em que os bancos terão menos dinheiro para trabalhar e as operações de crédito são restringidas, o consumo também tende a ser contido e, assim, devem atuar no sentido de segurar a arrancada dos preços.
A ata adverte que as pressões inflacionárias aumentaram. E, ao contrário do que tem afirmado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, persiste "o descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda". Ou seja, o consumo está correndo à frente da produção (e dos investimentos). Como nem o forte aumento das importações está equilibrando oferta e demanda, a inflação acelerou e precisa de corretivo.
Embora não esteja explicitado na ata, esta Coluna apurou que os modelos de computador do Banco Central apontaram que seria necessária uma alta de dois pontos porcentuais na Selic para que a inflação refluísse para dentro da meta.
Apenas o aumento do compulsório, que foi incorporado no conjunto das projeções (parágrafo 17 da ata), deve ter um impacto equivalente ao que teria uma elevação dos juros básicos de meio ponto porcentual. O Banco Central ainda não sabe qual será o impacto das novas restrições ao crédito.
Também não diz que até 19 de janeiro, dia da próxima reunião do Copom, terá corrido um período suficiente para aferir o efeito da alta anterior dos juros mais a freada no crédito sobre o comportamento dos preços. Afirma apenas que precisa de tempo para essa avaliação. Como já foi avançado na Coluna do dia 12 (Juros podem não subir), parece improvável que até meados de janeiro o Banco Central já tenha esse resultado.
O mais provável, portanto, é que, se tiverem de subir, os juros básicos subirão apenas lá por março ou, então, na reunião marcada para o dia 20 de abril. Mas não se pode afastar a hipótese de que a Selic não suba nem no primeiro semestre de 2011.
CONFIRA
Vai ser menor
O parágrafo 16 da ata do Copom está admitindo que o superávit primário do governo federal em 2010 não passará de 2,2% do PIB. É a quanto chegou o governo federal depois de deduzir da meta original, de 3,1% do PIB, as despesas (de investimento) do PAC e da Eletrobrás.
Esforço e tanto
O Banco Central carregou seus computadores para obtenção de uma meta de superávit primário de 3,0% em 2011 e de 3,1% em 2012. Se o governo federal conseguirá esse aperto dos cintos, sem apelar para os truques contábeis usados neste ano, são outros quinhentos.
E a caderneta?
A caderneta de poupança garante liquidez absoluta, rende TR mais juros de 0,5% ao mês e está totalmente isenta do Imposto de Renda. Para que o pacote do governo possa dar certo, os títulos de longo prazo têm de render bem mais do que as aplicações em caderneta ou, então, as condições da caderneta têm de piorar em relação ao que são hoje.
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