quarta-feira, novembro 10, 2010

REGINA ALVAREZ

Inflação e juros
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 10/11/10


A divulgação do IPCA de outubro, que teve alta de 0,75%, puxada pela inflação dos alimentos, reforçou as apostas do mercado em um aumento da taxa de juros em 2011, mas entre os especialistas ainda existem muitas dúvidas sobre a trajetória da inflação nos próximos doze meses.

E sobre o fôlego desses movimentos que contaminam os índices no momento.

O economista Salomão Quadros, da FGV, diz que há um mês estava totalmente convencido de que não havia necessidade de aumentar juros, mas agora não está tão confiante, pois apareceram novos fatores de pressão sobre os preços.

Não são apenas problemas pontuais de choque de oferta, como no caso do feijão e da carne, eleitos os vilões da hora. Há pressões do lado da demanda, que elevaram muito os preços da soja, por exemplo, turbinados pelas compras chinesas e pelos negócios no mercado de commodities.

Quadros não vê sinais de que a economia esteja em processo de superaquecimento, nem risco de espalhamento da inflação para outros setores - a não ser o de serviços, que responde com mais rapidez ao aquecimento da demanda. A dúvida maior é a quantidade de gás que ainda sustentará a inflação de alimentos, impulsionada por razões especulativas como os negócios com commodities.

- Há forças atuando nos dois sentidos, commodities pressionando os preços para cima e o câmbio (no caso dos bens duráveis), para baixo. Há dúvida sobre o que vai prevalecer - observa.

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, não enxerga no horizonte risco de inflação explosiva.

Se as taxas não estão convergindo para o centro da meta, de 4,5% ao ano, também não há sinais de descontrole, avalia. O fator mais relevante no aumento da inflação continua sendo a alta dos alimentos decorrente de choques de oferta, segundo Cunha. Para ele, o mercado está reagindo com certo pessimismo, apostando na necessidade de uma alta dos juros: - Não vejo a inflação explodindo no ano que vem, mesmo que o BC não faça qualquer esforço de juros. O melhor seria aguardar um pouco mais para avaliar o quadro da economia, que no momento está muito complexo.



Sinais da bolha

O gráfico abaixo mostra a entrada dos especuladores no mercado futuro de soja. De acordo com o economista da RC Consultores, Fábio Silveira, o movimento começou a partir de junho, quando a economia americana deu os primeiros sinais de que sua recuperação seria mais fraca.

- Foi nessa época que surgiram os primeiros rumores da nova expansão monetária, que acabou acontecendo, de US$ 600 bilhões. A valorização das commodities é sem fundamento real, porque os países desenvolvidos não estão com perspectivas de crescimento forte. É resultado de especulação, com a entrada dos investidores no mercado futuro usando o dólar farto e barato - explicou Fábio Silveira.



Pressão no vestuário

peso das commodities na inflação pode ser visto também no setor de vestuário. Enquanto o IPCA acumula alta de 4,38% no ano, o segmento registra elevação de 4,78% nos preços. De acordo com a Abit, neste caso o vilão é o algodão, que subiu 78% no mercado internacional. A matériaprima chega a ter peso de 30% no preço de algumas peças, como os jeans, por exemplo. Nem as importações da China estão conseguindo segurar a inflação no setor de vestuário.



COMPRAS: Os shoppings registraram aumento nas vendas de 16,2% em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2009. O presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga, reviu para cima a previsão para 2010, que no início do ano estava em 12% e agora é de 15%.

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