Carona verde
GILBERTO DIMENSTEIN
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/11/10
Lincoln aposta no novo: é uma espécie de consultor para a mobilidade dos funcionários das empresas
ATÉ O INÍCIO DO próximo ano, a cidade de São Paulo terá sete milhões de automóveis. Compondo um cenário de trânsito caótico, um veículo para cada três habitantes significa, para Lincoln Paiva, a necessidade de investir numa experiência para mudar o jeito como as pessoas circulam pela cidade, enfim, o modo como vivem. Ele resolveu inventar uma profissão, que ainda não tem nome: é uma espécie de consultor de mobilidade dos funcionários de empresas.
Sua tarefa: ajudar as empresas na gestão dos movimentos dos funcionários para que eles ganhem tempo, não aumentem o congestionamento e poluam menos. "Estou apostando num novo mercado."
Formado em marketing, Lincoln especializou-se na produção de relatórios empresariais de sustentabilidade. Com o tempo, percebeu que quase não havia atenção dos departamentos de recursos humanos ao movimento dos trabalhadores e a seu impacto sobre o ambiente.
Criou, então, seu próprio projeto, batizado de "Green Mobility". Uma das suas ideias é o desenvolvimento de sistemas dentro das empresas para o compartilhamento de automóvel, uma espécie de organização das caronas, feita com o uso de páginas da internet. "O objetivo é que a mobilidade faça parte das metas de toda a corporação."
Um de seus clientes decidiu dar prêmios aos funcionários que compartilham o automóvel com colegas. Isso se reverte em pagamento e em quantidade de folgas. Quanto mais carona um funcionário der, mais tempo livre terá. "Há muita resistência ainda, porque temos uma cultura individualista de uso do carro. Isso é difícil de romper."
O planejamento vai bem além de organizar as caronas. Há, por exemplo, a montagem de rotas para bicicletas, feita por guias contratados com essa finalidade. "Isso implica que cada empresa tenha seu bicicletário e um vestiário com uma ducha." Também é preciso estabelecer horários flexíveis, que possam combinar-se, e até, em determinados casos, pode-se optar por formas de trabalhar em casa.
As ideias de Lincoln encontram boa receptividade, afinal o tema está no topo da agenda do país, no geral, e no da agenda das empresas, em particular. A implementação dessas mudanças, no entanto, ainda é muito incipiente, está muito no início. Poucos são os que se dispõem a gastar dinheiro e tempo nesse tipo de projeto. Sites de carona solidária nascem e morrem por falta de confiança e de estímulo.
Para ele, essa é apenas uma questão de tempo. Os sete milhões de automóveis que a cidade terá em janeiro só reforçam a sensação de que o trânsito não é nem suportável nem sustentável. Lincoln quer transformar tudo isso em aprendizado coletivo. Está preparando, para o próximo ano, um MBA focado exclusivamente em mobilidade empresarial.
Até lá, vai estruturando seu próprio esquema de mobilidade. Faz quase tudo o que pode de metrô, de bicicleta ou a pé.
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