QE2 Celso Ming É a segunda operação de afrouxamento monetário quantitativo. Não se assuste com o palavrão aparentemente complicado. Não é nada mais do que aquilo que todo o mundo conhece pura e simplesmente como imprimir dinheiro. A sigla, fabricada e adotada em Wall Street, é essa que vai no título: QE2 (quantitative easing number 2). A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) presidido por Ben Bernanke, foi comunicada ontem em comunicado oficial, após a reunião ordinária do Comitê de Política Monetária (Fomc) que manteve os juros básicos (Fed funds) perto do zero por cento ao ano, onde estão encalhados desde dezembro de 2008. Trata-se de nova operação de despejo extra de dinheiro no mercado por meio da recompra de títulos do Tesouro americano. Desta vez, serão US$ 600 bilhões, a serem escoados até junho de 2011, à velocidade de US$ 75 bilhões por mês. Foi uma dose maior do que a esperada (meio trilhão de dólares). Juros em torno de zero por cento já equivalem à abundância natural de dinheiro vivo. A primeira operação (QE1) foi iniciada em dezembro de 2008 e correspondeu a um lançamento de US$ 1,7 trilhão, entre recompra de investimentos podres e de títulos do Tesouro. Como nem os juros a zero nem a primeira rodada extra de emissões ajudaram a tirar a economia americana da estagnação e do desemprego, o Fed já vinha anunciando o e reforço. A ideia prevalecente é a de que é preciso ainda mais dinheiro para destravar o crédito, aumentar o consumo, empurrar a produção e reduzir o desemprego. Como as finanças públicas dos Estados Unidos estão desequilibradas, uma vez que o governo federal está gastando por ano fiscal US$ 1,3 trilhão a mais do que arrecada, vai sendo afastada a proposta de cortar impostos ou de despejar mais recursos do Tesouro para produzir o mesmo resultado. Não dá para dizer que a primeira operação de afrouxamento quantitativo não serviu para nada, porque tudo poderia ter ficado pior sem ela. Mas são enormes as dúvidas de que esse tipo de heterodoxia monetária funcione porque está tentando mobilizar um consumidor altamente endividado, tomado pelo medo do desemprego e do futuro, pouco propenso a se atolar em novas dívidas. Por outro lado, essa inundação monetária corre o risco de provocar duas distorções: novas bolhas financeiras que um dia explodem e produzem catástrofes como as da corrida imobiliária nos Estados Unidos em 2007; e de provocar hiperinflação. Por enquanto, não há nem o mais pálido sinal disso. Essa operação produz um terrível efeito colateral: o de criar enorme liquidez nos mercados que, por sua vez, tendem a derrubar o valor do dólar em relação ao ouro e às outras moedas fortes. O enfraquecimento do dólar deve aumentar (em dólares) os preços das commodities e dos ativos de risco, como ações, imóveis e títulos, não porque estes tenham se valorizado nos mercados, mas porque a desvalorização da moeda americana exige mais dólares para comprar a mesma coisa. Para o Brasil, esta é uma notícia ruim porque boa parte desse despejo de moeda estrangeira acabará por chuveirar também por aqui e ajudará a valorizar o real. É o que fará com que a formação de reservas e a imposição de pedágios (IOFs) na entrada de capitais pareçam inúteis operações enxuga-gelo. |
quinta-feira, novembro 04, 2010
CELSO MING
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