Maioria cativa
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/10/10
Os partidos governistas, assim compreendidos os que são aliados do governo Luiz Inácio da Silva, elegeram maioria expressiva no Congresso Nacional: mais de 60% dos deputados federais e quase 60% dos senadores, numa conta que considera 7 senadores e 66 deputados “independentes”.
As pesquisas indicavam que os governistas seriam em maior número, cerca de 70%, até um pouco mais, tanto na Câmara como no Senado. De qualquer modo, um quadro muito diferente daquele desenhado pela eleição de 2002, quando Lula chegou ao poder.
Em 2003 tomaram posse 254 deputados tidos como governistas e 259 considerados oposicionistas. No Senado o cenário era ainda mais favorável à oposição: 31 governistas para 50 oposicionistas.
A situação não demorou a se alterar e, principalmente na Câmara, na eleição seguinte a correlação de forças estava não só invertida, como era de impressionantes 353 governistas para 160 oposicionistas.
No Senado, apesar de o governo ter se fortalecido (49 senadores para 32 da oposição) a vida continuou difícil para o Palácio do Planalto, notadamente por causa do comportamento do PMDB.
Para 2010, Lula tinha um plano: dizimar os oposicionistas no Senado. Conseguiu parcialmente, ao trabalhar para derrotar adversários como Tasso Jereissati, Marco Maciel e Artur Virgílio, mas não “fez” os 58 senadores previstos.
Ficou com 48 das 81 vagas, sem contar as cadeiras do PP, PV, PSOL e sem partido, enquanto à oposição ficaram reservados 26 lugares.
O PMDB agora bem mais firme do lado lulista porque o presidente do partido será vice-presidente da República, se Dilma Rousseff for eleita presidente.
E se o resultado for outro, e se José Serra ganhar?
Problema nenhum. Ficará em minoria no Congresso algumas semanas até que os partidos antes aliados a Lula se tornem aliados ao novo presidente.
Os analistas estrangeiros terão algum trabalho para explicar aos respectivos públicos o fenômeno, por aqui sobejamente conhecido e absolutamente lamentável, da formação de maiorias no entorno no poder, qualquer que seja ele.
Caso seja Serra e não Dilma o vencedor, tais partidos terão adaptação rápida, uma vez que migraram para a seara petista vindos exatamente de onde agora se prontificariam a voltar em nome do patriotismo e da governabilidade.
Sinuca - Os líderes religiosos exigem de Dilma praticamente um rompimento público com causas caras ao PT - casamento entre homossexuais e descriminalização do aborto, entre outras - quando pedem que ela divulgue uma carta aberta se comprometendo a não mexer com esses assuntos.
Se for preciso, o partido aceitará calar até a eleição, mas é difícil acreditar que aceite a situação, uma vez ganha a Presidência. Inclusive porque é o presidente do PT quem chama de “medieval” o debate dos temas de caráter religioso.
Pesos - Compreende-se que o PT queira “inflar” o personagem Paulo Preto, procurando criar correspondência no PSDB com o caso Erenice Guerra. Trata-se, porém, de uma comparação militante.
A acusação ao Paulo Preto é de ter desviado R$ 4 milhões doados à campanha de José Serra. Questão a ser resolvida pelo PSDB, por suposto.
Já as denúncias envolvendo Erenice dizem respeito a desvios públicos engendrados a partir da Casa Civil da Presidência da República, cuja acusada um dia antes de ser orientada a pedir demissão ainda recebia crédito de confiança por parte da candidata Dilma.
Querer que o episódio tucano tenha agora o mesmo efeito que teve o caso petista no primeiro turno é apostar alto no poder da manipulação dos fatos.
Ou querer produzir imparcialidade de maneira artificial.
Egotrip - De um tucano “coordenador” de campanha sobre a possibilidade de vitória no segundo turno: “Vai depender do psiquiatra do Serra”.
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