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Merval Pereira
O Globo - 22/09/2010
O presidente Lula anda pelo Brasil a falar mal dos meios de comunicação que, segundo ele, inventam coisas contra o seu governo para impedir que ele tenha sucesso. E o que é o sucesso que Lula procura tão ansiosamente que não lhe bastam a popularidade recorde e o prestígio internacional (um pouco abalado, é verdade, mas ainda grande)? A vitória de Dilma no primeiro turno.
Não é apenas para compensar as duas derrotas que sofreu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso que ele quer ganhar também no primeiro turno.
O que ele teme é mais um mês de confronto direto, com tempos iguais de televisão e debates cara a cara entre sua candidata inventada e o adversário (a).
No último sábado, o presidente Lula fizera fortes ataques à imprensa em comício em Campinas, afirmando que derrotaria os adversários e “alguns veículos de imprensa que se comportam como partidos políticos”.
Ato contínuo, centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos anunciaram para amanhã uma manifestação contra a “baixaria nas eleições” e contra o “golpe midiático que têm como objetivo forçar a ida do candidato do PSDB [José Serra] ao segundo turno”.
Seria risível se não fosse trágico. A eleição ter um segundo turno seria “um golpe” contra a vontade do povo, como se as urnas já estivessem fechadas.
Os lulistas querem parar o país do jeito que está e acordar no dia 3 de outubro à noite, quando o resultado oficial, com a vitória de Dilma Rousseff, será anunciado. Para eles, as pesquisas de opinião, especialmente quando realizadas pelo Vox Populi, substituem as urnas.
Qualquer coisa que aconteça até o dia da eleição que possa influir no seu resultado tem que ser congelado.
O próprio Lula diz para suas plateias para não acreditarem no que veem na televisão ou leem nos jornais, pois são invenções contra ele.
As demissões de ministros, de assessores diretos, as negociatas confirmadas, os subornos recebidos, tudo foi criação da imprensa.
Nesse caso até que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, tinha razão ao tentar resistir à demissão da ministra Erenice Guerra.
Alegava que não deveriam dar munição à “grande imprensa”, que denunciava as falcatruas que ocorriam no Gabinete Civil.
Se é para fingir que não aconteceu nada, então o melhor seria mesmo manter a farsa desde o começo.
Mas o grave não é esse ataque de desaforos aos meios de comunicação, comandado pelo próprio presidente da República. O grave é o que ele prenuncia.
Pacotes de dinheiro são o fetiche da política nacional, já fazem parte do imaginário nacional. O mais recente deles, com R$ 200 mil, apareceu na gaveta de um funcionário do Gabinete Civil sem que ele nem mesmo soubesse o que fizera para merecer semelhante prêmio.
Era uma propina generalizada, em troca de um contrato para a compra de Tamiflu, a vacina contra a gripe suína.
Pequenos ou grandes, enfiados em envelopes ou simplesmente amarrados por aquele elástico ou banda de papel usados nos bancos, há anos os brasileiros se acostumaram a ver pacotes de dinheiro passando de mão em mão, ou amontoados em mesas de delegacias policiais.
E são pacotes suprapartidários, políticos das mais variadas legendas foram apanhados com a mão na massa. E também não têm características regionais.
Já vimos pela televisão prefeitos de pequenas cidades recebendo propinas em dinheiro vivo, assim como na capital da República.
Muitos pacotes foram vistos, como os diversos maços de dinheiro vivo que durante meses, nos mais diversos ângulos, surgiram passando de mão em mão em Brasília, na alegre administração de José Roberto Arruda do DEM.
Eram escondidos em bolsas, nas meias, em sacolas de supermercado ou de lojas finas num balé pornográfico, que desfilou aos olhos dos telespectadores do país inteiro, flagrado por uma câmera escondida como se tudo não passasse de uma pegadinha daquelas dos programas americanos de televisão tipo “câmera indiscreta”.
Infelizmente para a cidadania, era tudo verdade e não havia diretor para interromper a cena e informar que não passava de brincadeirinha.
Outros pacotes de dinheiro se tornaram realidade palpável através das fotos, como o do caso dos aloprados de 2006, quando elementos ligados à cúpula do PT e da campanha do então candidato ao governo de São Paulo, Aluizio Mercadante, foram presos tentando comprar com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo um dossiê contra Alckmin e Serra.
O dinheiro, que até hoje não tem explicação de origem, era virtual até às vésperas da eleição, com o governo pressionando para que a Polícia Federal não divulgasse as fotos.
Afinal, elas vazaram para a imprensa e o escândalo ganhou contornos verdadeiros.
E o que dizer dos R$ 3 mil embolsados pelo ex-chefe dos Correios, Maurício Marinho, em nome de um esquema de corrupção chefiado pelo deputado Roberto Jefferson, que desencadeou a crise do mensalão? Quem não se lembra daquele burocratazinho escorregando a mão para apanhar aquele bolo de dinheiro, colocando-o no bolso do terno sem ao menos contar, certo de que era suficiente? Outro pacote de dinheiro famoso foi o que foi parar nas cuecas de um dirigente do PT do Ceará, ainda por cima assessor de um deputado irmão do então presidente do PT, José Genoino, em 2005.
Foi preso com R$ 200 mil em uma bolsa e US$ 100 mil na cueca. No lugar do famoso “batom na cueca”, como ironicamente denomina-se uma prova irrefutável do malfeito, o PT inovou na corrupção do país com os “dólares na cueca”.
Mas o pior não são os pacotes de dinheiro. É o que eles prenunciam.
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