Na reta final
Merval Pereira
O GLOBO - 15/08/10
A decomposição da mais recente pesquisa do Datafolha, que mostra a candidata oficial Dilma Rousseff colocando oito pontos de vantagem sobre o candidato da oposição José Serra, mostra uma tendência semelhante ao que aconteceu no primeiro turno da eleição de 2006, com o país dividido por regiões: Serra segue liderando no Sul do país, Dilma vence no Nordeste e no Norte, e o Sudeste está empatado dentro da margem de erro da pesquisa, com ligeira vantagem para Dilma. Em 2006, Alckmin perdeu a eleição mas ganhou no Sudeste, graças aos votos de São Paulo.
O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a “geografia do voto” nas eleições presidenciais do Brasil de 1989 a 2006 e vê um cenário semelhante ao da última eleição presidencial se desenhando, embora acredite que a fatura não esteja decidida a favor da candidata do governo, mesmo que as condições objetivas sejam favoráveis a ela.
Perto de ganhar a eleição no primeiro turno, com 47% dos votos válidos, Dilma Rousseff está em situação pior do que Lula aparecia às vésperas da campanha de rádio e televisão de 2006, quando o presidente, buscando a reeleição, tinha 55% dos votos válidos.
Também o então candidato tucano Geraldo Alckmin, estava em situação pior do que hoje está Serra: havia caído de 28% para 24%, enquanto Serra aparece hoje com 33%, ou 38% de votos válidos.
Marina Silva registra 12% de votos válidos, enquanto os candidatos de partidos pequenos somados vão a 2%, o mesmo quadro de 2006, quando Heloisa Helena, do PSOL, aparecia com 11% dos votos e Cristovam Buarque com apenas 1%.
O resultado do primeiro turno foi bem diferente. Lula teve 48,61% dos votos válidos e Alckmin: 41,64%, enquanto Heloisa Helena e Cristovam somavam menos de 10% dos votos.
O que demonstra que política não pode ser confundida com uma ciência exata, nem as pesquisas definem o resultado final das urnas.
A situação regional é explicada por Cesar Romero como resultado de uma cadeia de interesses, e não uma divisão simplista entre “ricos e pobres”.
No Nordeste, por exemplo, não é especificamente o beneficiário do Bolsa Família que influencia o voto, mas uma cadeia de beneficiários. No que aumenta a renda na região, e também a classe média, são também os comerciantes que se beneficiam.
E no Sul, não é só o executivo dos setores exportadores, mas toda a região que é afetada pela valorização do real, que prejudica as exportações.
Se o real estivesse valendo menos em relação ao dólar, toda a região estaria com mais dinheiro, não apenas os grandes exportadores como a Sadia e a Perdigão, mas também o pequeno produtor rural, que faz parte da cadeia exportadora, ressalta Cesar Romero.
Comparando os mapas regionais do resultado da eleição passada no primeiro turno com as pesquisas atuais, o cientista político da PUC destaca que, em 2006, Lula teve um ótimo desempenho na região Norte-Nordeste e em parte do Sudeste.
Em contrapartida, o Sul, São Paulo, parte de Minas e o Centro-Oeste ficaram com o outro lado.
Cesar Romero acha que pesquisas juntando o CentroOeste com o Norte confundem as informações, pois o CentroOeste tem um peso grande do setor agropecuário exportador.
São realidades econômicas muito diferentes.
Se pegarmos as diferenças de percentuais de votação entre 2002 e 2006, veremos que Lula cresce até 66% nas regiões Norte e Centro-Oeste e em parte do Sudeste e cai no Sul, em São Paulo, no Sul de Minas, no Triângulo Mineiro e em parte do CentroOeste, e Alckmin tem situação invertida, crescendo nas mesmas regiões.
Em contrapartida, nas regiões Norte e Nordeste e em parte do Sudeste ele cai muito em relação a Serra em 2002.
As pesquisas atuais indicam um bom desempenho da Dilma nas regiões Norte e Nordeste e em parte do Sudeste. Serra vai bem no Sul, no Centro-Oeste e em parte do Sudeste.
Para Cesar Romero, na verdade, quem define a eleição são os nove estados que têm 75% do eleitorado: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Nesses estados, a situação de Serra vem piorando, enquanto Dilma vai crescendo.
Em São Paulo, onde Alckmin lidera com folga as pesquisas para governador, a vantagem de Serra sobre Dilma caiu sete pontos.
No Rio Grande do Sul, a vantagem de Serra caiu para oito pontos; no Paraná, a diferença, que era de 15 pontos, caiu para sete pontos.
Em Minas Gerais, Dilma está na frente de Serra com sete pontos de diferença. O começo da arrancada de Antonio Anastasia, candidato de Aécio Neves a governador, registrado pela mais recente pesquisa do Vox Populi — a diferença entre ele e Hélio Costa, que lidera, teria se reduzido para dez pontos — pode ser também um começo de virada no plano nacional, se não acabar prevalecendo o voto Dilmasia.
Ao contrário, no Nordeste, a diferença a favor de Dilma só faz crescer: em Pernambuco, chega a 33 pontos; na Bahia, está em 11 pontos.
No Rio de Janeiro, a vantagem de Dilma cresceu 10 pontos na última pesquisa e, Marina Silva, que registra seu melhor desempenho, com 15% das preferências, já se aproxima de Serra, que está com 25%.
O Datafolha tem uma boa notícia para Serra: a influência de Lula sobre o eleitorado já estaria chegando ao fim, enquanto ainda existem 22% de eleitores que cogitam votar em um candidato apoiado por Lula, mas não estão certos disso.
Neste grupo, Serra lidera com 36% contra 31% de Dilma.
O programa eleitoral será fundamental para a definição deste grupo, além dos muitos debates que acontecerão.
O perigo para Serra é que ele continue perdendo eleitores na exata medida em que Dilma ganha apoios. Ou que o voto útil acabe esvaziando Marina Silva.
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