domingo, agosto 15, 2010

JIMMY CARTER e KOFI ANNAN

Vacinas infantis precisam de incentivos
JIMMY CARTER e KOFI ANNAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/08/10 

Apesar dos vários esforços na área, a comunidade global ainda não alocou os recursos necessários para levar a gama completa de vacinas a todos 


Vacinas já salvaram as vidas de milhões de crianças em todo o mundo e têm o potencial de salvar outros milhões no futuro, à medida que são desenvolvidas e introduzidas vacinas novas. As vacinas já resultaram na erradicação global da varíola; estamos prestes a atingir a erradicação global da poliomielite, e as mortes por sarampo caíram 78% desde 2000.
A imunização é um dos investimentos em saúde infantil que tem a melhor relação custo-benefício. No entanto, em países de baixa renda, duas em cada cinco mortes de crianças com menos de 5 anos em 2009 se deveram a pneumonia ou diarreia. Novas vacinas são capazes de prevenir grande parte dessas mortes, mas a comunidade global não alocou os recursos necessários para levar a gama completa de vacinas a todas as crianças.
A erradicação da pólio ainda não está assegurada, e corremos grande risco de perder os avanços dramáticos conquistados no combate ao sarampo, na medida em que o financiamento por doadores vem caindo vertiginosamente, apesar do avanço acelerado em direção à eliminação da doença.
A redução nas mortes por sarampo, por si só, responde por quase 25% da queda global nas mortes infantis desde 1990. Não será possível alcançar a Meta 4 de Desenvolvimento do Milênio -reduzir a mortalidade de crianças de até 5 anos em dois terços até 2015- sem apoio adicional à imunização. Será um crime se ela não for alcançada simplesmente pela falta de apoio financeiro adequado.
Mais de 22 milhões de crianças na primeira infância ficaram de fora da ação dos serviços de imunização rotineira em 2008 e continuam sem proteção. Campanhas nacionais de imunização asseguram que todas as crianças sejam vacinadas, mesmo em regiões de acesso difícil onde muitas crianças não têm acesso aos serviços de vacinação de rotina.
Apesar de todas as iniciativas globais já feitas nesse campo, corremos o risco de perder muitos dos ganhos já conquistados e de deixar de receber os benefícios adicionais que estão ao alcance do mundo.
Desde junho de 2009, mais de 30 países africanos sofreram surtos de sarampo, resultando em mais de 89 mil casos da doença e 1.400 mortes.
A OMS estima que o efeito combinado da redução no engajamento financeiro e político pode resultar em um retorno, até 2013, a mais de 500 mil mortes anuais por sarampo, eliminando os avanços conquistados nos últimos 18 anos. Qual é a razão disso?
Para começar, a prevenção é invisível. Quando a imunização é bem-sucedida, nada acontece. Já doenças ou lesões são altamente visíveis e exigem atenção. Ademais, crianças não votam e não podem influir sobre as prioridades sociais.
Assim, a imunização frequentemente torna-se secundária. Em segundo lugar, a economia global e muitos países em desenvolvimento individuais passam por dificuldades profundas. Isso reduz as chances de investirem em atividades de baixa visibilidade, apesar de retornos muito altos.
Precisamos de estratégia balanceada de investimento em imunização que reforce ações de rotina, conserve as iniciativas que visam erradicar a pólio e reduzir as mortes por sarampo em 95% e possibilite a introdução de vacinas novas.
Os países desenvolvidos e as organizações filantrópicas precisam reconhecer que as necessidades dos países em desenvolvimento crescem à medida que novas medidas de saúde pública se tornam disponíveis, e devem fazer os ajustes necessários no apoio que dão.
Os governos nacionais precisam aumentar o apoio que dedicam a seus próprios programas. Por fim, as pessoas precisam reivindicar a disponibilização irrestrita de vacinas e serviços de imunização. Apenas com ações coordenadas é que poderemos concretizar plenamente os enormes benefícios potenciais das vacinas.

Tradução de
CLARA ALLAIN 
JIMMY CARTER foi o 39º presidente dos Estados Unidos da América (1977-1981), laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2002.
KOFI ANNAN foi secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) de 1997 a 2006, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2001

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