Eleitorado oscila
Merval Pereira
O GLOBO - 03/08/10
A diferença entre as mais recentes pesquisas do Datafolha e do Ibope não pode ser atribuída à metodologia utilizada por cada instituto, e nem mesmo é possível dizer que um deles esteja errado. Até o momento, os especialistas estão convencidos de que está havendo uma oscilação do eleitorado, que ainda não se fixou em um candidato e se deixa levar por eventuais movimentos mais agressivos dos meios de comunicação.
O resultado do Datafolha dando um empate técnico entre Serra e Dilma veio logo depois de uma pesquisa do Vox Populi que dava Dilma na frente com oito pontos de vantagem.
O empate teria sido resultado dos efeitos da ampla exposição do candidato nos horários de propaganda partidária do PSDB e de seus três aliados na TV — o DEM, o PPS e o PTB.
O programa nacional do PSDB na televisão, que parecia não ter surtido efeito, acabou sendo compensado pelas inserções publicitárias, gerando pontos favoráveis para Serra.
Esse mais recente Ibope retoma a situação anterior, mostrando que a tendência da corrida presidencial é favorável a Dilma, mas que o eleitor ainda não está com o voto consolidado, sendo sensível à propaganda, o que só aumenta a importância do período de propaganda na televisão e rádio que começa dia 17 e a importância da aparição de Lula nos programas eleitorais do PT.
Os debates, que começam dia 5 pela TV Bandeirantes, também terão importância fundamental este ano, especialmente pelo desconhecimento do eleitorado em relação ao comportamento da candidata oficial.
Mesmo que o Datafolha utilize os chamados “pontos de fluxo” para fazer suas pesquisas, ao contrário dos outros institutos, que vão às casas dos entrevistados, a diferença de metodologias não explicaria a diferença de resultados, e muito menos desqualifica as pesquisas do Datafolha como querem alguns militantes petistas mais exaltados.
Além da base de pesquisa do Datafolha ser muito maior que a dos outros institutos (ouviu na última pesquisa mais de 10 mil eleitores, contra cerca de 2 mil do Ibope), o sistema de checagem do Datafolha é muito seguro, segundo a opinião generalizada entre os técnicos.
O instituto costuma colocar nos pontos de fluxo onde são feitas as pesquisas um checador para cada três pesquisadores, o que enfraquece o argumento de seus críticos.
Na verdade, a checagem que os institutos fazem tem o objetivo de conferir se seus entrevistadores realmente fizeram as entrevistas que entregam, e por isso os checadores voltam a 20% dos domicílios para conferir os dados.
O Datafolha faz a checagem por telefone, mas não apenas através desse método, e utiliza checadores no local da pesquisa.
Os institutos, sem exceção, utilizam-se de técnicas semelhantes para ganhar velocidade na apuração. Se fossem seguir as regras para obter a “aleatoriedade” técnica desejável, levariam um mês para obter os resultados que apresentam em dois ou três dias.
A começar pela base de dados do IBGE, que a cada ano fica mais precária, já que tem como origem o censo que é realizado de dez em dez anos.
Os dados são ajustados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e ponderados, o que tem funcionado “relativamente bem” nos últimos anos.
Mas é evidente que essas pesquisas estão sujeitas a chuvas e trovoadas, a começar pela “margem de erro”, que tecnicamente é calculada para os casos em que elas seguem rigorosamente os métodos tradicionais, o que não acontece com essas pesquisas, especialmente em época de eleição.
Há, por exemplo, entre as pesquisas do Datafolha e do Ibope, divergências importantes.
Embora os números das regiões Sul e Norte/CentroOeste coincidam, no Sudeste e no Nordeste eles são completamente disparatados.
No Nordeste, onde está a maior força do lulismo, a liderança de Dilma é inconteste, mas é maior no Ibope do que no Datafolha.
Neste último, a candidata oficial vence de 41% a 29%, mas no Ibope a vantagem dobra: 49% a 25%. Já no Sudeste, Serra lidera, segundo o Datafolha, por sete pontos: 40% a 33%, mas empata com a petista em 37% a 35% no Ibope.
Embora essas diferenças sejam fundamentais, o que fica claro é que Serra precisa reduzir a força de Dilma no Nordeste, onde há analistas que acreditam que nessa batida ela possa chegar a ter 70% dos votos, e melhorar sua atuação no Sudeste, especialmente em São Paulo e em Minas Gerais.
Esses dois estados, os maiores colégios eleitorais do país, que têm somados 43. 213. 998 milhões de eleitores, mais de 30% de um total de 130.469.549 de brasileiros aptos a votar, são dominados pelo PSDB, e no entanto José Serra não está recebendo a votação que os tucanos esperavam.
Em São Paulo, que o partido de Serra governa há 16 anos, a diferença de votação está em torno de 3 milhões de votos, a menor das últimas eleições.
Mesmo sendo derrotado em 2006, Alckmin venceu Lula com quase 4 milhões de votos, e Fernando Henrique em 1994 chegou a colocar 5 milhões de votos de dianteira no estado.
Cálculos otimistas dos tucanos indicavam que Serra poderia vencer lá talvez por 6 milhões de votos de diferença, o que compensaria a força do lulismo no Norte e Nordeste.
Também em Minas os tucanos esperavam sorte melhor, pois Lula venceu as duas últimas eleições por cerca de 1 milhão de votos.
O ex-governador Aécio Neves terá que se empenhar mais para virar o jogo a favor de seu candidato Antonio Anastasia, e é possível que com isso melhore a situação de Serra.
O fato é que hoje o que está valendo em Minas não é o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia), mas Dilma e Hélio Costa, do PMDB.
Serra, que tem cerca de 33% dos votos mineiros, está em melhor situação que Anastasia, que ainda não chega a 20%.
A força de Lula é inquestionável nesta eleição, mas para tentar superá-la os tucanos precisam antes se unir onde são fortes.
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