Nota baixa pode ser reflexo de algum problema pessoal
ANA LYDIA SANTIAGO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/08/10
A mudança de escola no meio do ano é uma decisão tomada a partir de uma previsão dos educadores sobre os resultados finais do aluno.
Os educadores tendem a atribuir o mau rendimento aos modos de vida da família. Os pais, por sua vez, buscam corrigi-lo impondo ao filho novas regras e privações.
O problema, porém, pode não se explicar na relação do jovem com os estudos. Pode ser algo oriundo da subjetividade e que apenas se reflete no desempenho escolar.
Crianças e os jovens demonstram seu mal-estar por meio do corpo e de atuações que vão da apatia à agitação.
Esse mal-estar pode ser a expressão de uma dificuldade ou um sofrimento que o próprio sujeito desconhece, mas que precisa ser tratado.
A indicação é buscar um especialista -um psicanalista.
Para ler os comportamentos "inadequados", é preciso considerar o "não saber" e o "novo" da puberdade.
O "não saber" é o que caracteriza o encontro com o outro sexo. O jovem nada sabe sobre o que o atrai, como namorar, se é desejado...
Ou ele se interessa pelo "não saber" e o busca por intermédio de seus pares, privilegiando os amigos e perdendo interesse pelos estudos.
Ou ele adia o encontro com o outro sexo e, para encobrir seu "não saber", mergulha no estudo, buscando satisfação com outro saber.
O "novo" de cada geração significa romper com o precedente e renovar a autoridade. Por isso, há uma tendência das "velhas" gerações -o professor- a recusá-lo.
Cada escola estabelece normas para conter e disciplinar os corpos. A essa contenção, porém, os corpos respondem. Os desafios são ler suas respostas e refletir sobre como acolher o "não saber" e o "novo", para que a prática não seja a exclusão do aluno.
ANA LYDIA SANTIAGO é coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Psicanálise e Educação da UFMG
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