Subdunguismo na Rede
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/10
"Entre a velha promiscuidade da CBF com a Globo e a truculência de Dunga no trato com os jornalistas, a escolha é muito simples: criticar as duas.
"O monopólio do acesso à seleção, derivado da audiência e obtido durante várias Copas pela Globo, fez fermentar uma cultura bocó e nociva, na qual as fronteiras entre jornalismo verde-amarelo e negócios nem sempre foram claras. Isso, é bom destacar, a despeito da seriedade e da qualidade de muitos profissionais que atuam na emissora.
"Até mesmo num assunto tão sério como o futebol, a sociedade ganha quando há pluralismo, opções de escolha, debate, divergências - enfim, imprensa independente.
"Quando se volta contra profissionais da Globo, Dunga não está preocupado com o direito à informação desimpedida. Isso não existe no seu horizonte. Ele não aceita, não tolera e não perdoa a crítica. E exibe isso com um grau de franqueza que deve incomodar o espírito de compadrio & cia. que rege a CBF.
"Dunga é uma figura tosca e autoritária. Naquela instrutiva entrevista que concedeu ao convocar a seleção, disse que não poderia avaliar se a ditadura brasileira foi boa ou ruim: 'Só quem viveu é que pode nos dar a resposta'. Não satisfeito, foi mais longe: 'É a mesma coisa sobre a época da escravidão. Eu não vivi, como é que vou dizer - ah, era ruim, era bom, não sei'.
"Depois da história, a moral e cívica; depois da teoria, a aula prática: na sua recente coletiva, o 'professor' primeiro interpelou de forma intimidatória o repórter da SporTV que havia balançado negativamente a cabeça - 'algum problema?'. A seguir, o insultou com palavrões em voz baixa, repetidas vezes.
"Foi o que bastou para que o assunto invadisse a seara política. Na blogosfera, militantes do PT e da candidatura Dilma Rousseff transformaram o técnico em herói da resistência antiglobal.
"Espalhou-se na rede um subdunguismo eleitoral. Soa como um sintoma - como dizer? - de fascismo democrático".
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