De alegria, governos e mercados
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/06/10
SÃO PAULO - Estava pronto para falar de Dunga, para dizer que o que me incomoda nele não são os jogadores que levou ou deixou de levar, a maneira de jogar do time brasileiro e coisas que tais. O que me incomoda é que ele é triste.
Sob esse aspecto, não é brasileiro, se por brasileiro se tomar o estereótipo do "povo alegre".
É tudo o que Dunga não é. Ao contrário, é chato. Tem tudo, portanto, para ser campeão de uma Copa de futebol triste, em que a única seleção até agora alegre foi a alemã, que os torcedores brasileiros sempre achávamos ter a cintura dura.
Mas vou deixar o Dunga em paz para chamar a atenção para mais lances da guerra governos x mercados. Guerra que, em tese, pode moldar um pouco o futuro do planeta, com inevitáveis repercussões até na terra de Dunga e de Lula.
Primeiro lance: o presidente Barack Obama exige que a BP pague pelo estrago feito no golfo do México. Justo, muito justo, mas no jornal-porta-voz dos mercados, o "Wall Street Journal", Holman Jenkins Jr. já saiu ao ataque para dizer que é melhorar deixar que a BP faça bons negócios, para poder reinvestir. Quem paga, então, os prejuízos causados pelo "negócio"?
Segundo lance: George Osborne, responsável pelo Tesouro britânico, está avisando os bancos de que eles, como a BP, terão que pagar pelos danos que provocaram na economia britânica durante a crise que ainda está em andamento.
Osborne, adicionalmente, reitera que quer taxar os bancos, intenção também anunciada pelo governo da Alemanha, embora apenas a partir de 2013.
Tanto na Alemanha como no Reino Unido, o governo é uma coligação conservadores/liberais, com predominância conservadora. Bichos de uma raça avessa a bulir com os mercados.
Mas, se o futebol alemão virou alegre, e o brasileiro está triste, tudo pode acontecer no mundo.
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