Poderosa
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/04/10
RIO DE JANEIRO - Uma conhecida minha, ocupando um cargo de certa responsabilidade numa empresa de telefonia, iria submeter-se a um teste de conhecimentos capaz de garantir-lhe uma promoção no emprego. Para certificar-se de que estaria alerta na hora da prova, resolveu tomar o remédio que seu filho começara a usar regularmente para combater o "transtorno de deficit de atenção e hiperatividade" -Ritalina.
Tal transtorno é o diagnóstico contemporâneo para crianças que, no passado, se classificavam como aluadas, que não paravam quietas, de baixo rendimento escolar porque não conseguiam se concentrar em sala. Antigamente esse problema se resolvia com uma conversa com o aluno na presença do pai ou da mãe e, deste, a ameaça de privação do cinema ou praia se o guri não tomasse jeito. Simplório? Hoje se ministra uma droga ao garoto.
A mulher -40 anos, mestrado na Sorbonne, leitora de Barthes e Foucault, mas ignorante em dependência- tomou o remédio, de que não sabia nada. Toimmm!!! Não se sentiu apenas alerta. O medicamento a deixou clarividente, eufórica, confiante, poderosa. Era isso o que seu filho vinha tomando por orientação médica e, pelo visto, com ótimos resultados. Inclusive porque, sendo a aplicação regular, diária, o garoto não se abatia pela abstinência, como aconteceu com ela, assim que passou o efeito da dose única.
Ritalina é um estimulante do sistema nervoso central. Produz o mesmo efeito que a cocaína, as meta-anfetaminas, as "bolinhas" e outras drogas legais e ilegais. A bula adverte sobre a ocorrência de insônia e perda de apetite. Recomenda o uso combinado com antidepressivo e menciona a possibilidade de o "abuso" levar à tolerância e à dependência.
Não parece, mas a bula é a favor do remédio.
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