Deficit de valores
Folha de S. Paulo - 13/03/2010 |
Lula comparou os perseguidos políticos cubanos em greve de fome com bandidos presos no Brasil. Não se encontra um ser pensante no governo para defender o presidente em conversas privadas. A classificação da fala lulista vai de despautério para baixo. Em público é outra história. A ex-presa política Dilma Rousseff deu o tom ao ser convidada a comentar: "Vocês não vão conseguir me tirar aqui uma crítica ao presidente Lula, nem que a vaca tussa". Na noite de quinta-feira, o presidente resolveu interpretar as críticas na mídia a respeito de seu amor pelo regime autoritário de Cuba. "Leiam os editoriais dos jornais", recomendou. "De vez em quando, é bom ler para a gente ver o comportamento de alguns falsos democratas, que dizem que são democratas, mas que agem querendo que o editorial deles fosse a única voz pensante no mundo". A reação de Lula ilustra dois aspectos relevantes da política brasileira atual. Primeiro, como a alta popularidade produz na mesma proporção uma atrofia no superego presidencial. Segundo, como o conceito de democracia e direitos fundamentais é primitivo na mente do titular do Planalto. É possível a esta altura Lula já ter percebido o erro cometido. Inteligente, o petista poderia pelo menos ter dito: "Expressei-me mal". Mas a ausência de um ato de contrição é o menor problema. O pior é Lula jogar a sua popularidade pela janela quando se tratou de contribuir para a consolidação dos valores da democracia na América Latina. A diplomacia petista ateve-se a passar a mão na cabeça de governantes obtusos e ainda enroscados em uma dobra do tempo pré-queda do Muro de Berlim. Esse é o legado lulista numa perspectiva de avanços e retrocessos nas instituições democráticas do continente. |
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