FOLHA DE SÃO PAULO - 13/03/10
Visita inédita em 150 anos esbarra na divergência sobre a imposição ou não de sanções ao Irã por seu programa nuclear
JERUSALÉM - AO desembarcar amanhã à noite em Tel Aviv, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se-á o primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar Israel em exatos 150 anos (o anterior foi dom Pedro 2º).
Pena que a efeméride venha acompanhada de uma divergência já contratada: "Sabemos que a posição do governo brasileiro sobre o Irã não coincide com a nossa", admite Dorit Shavit, a responsável por América Latina no Ministério de Assuntos Exteriores israelense.
O fundo da divergência é assim resumido por ela: "O governo brasileiro fala em engajamento, e nós sabemos que só sanções podem evitar que o Irã desenvolva a bomba".
Não se trata de um desacordo menor, desses que são comuns mesmo entre países com bom relacionamento entre si. Do ponto de vista do governo e da sociedade israelenses, é uma questão vital. As notórias e públicas ameaças do regime iraniano de varrer Israel do mapa poderiam passar de bravata a uma possibilidade real se o Irã tiver a bomba.
Por isso, explica-se o fato de Israel estar sendo quase tão ativo quanto os Estados Unidos na tentativa de convencer a comunidade internacional de que, "quanto mais fortes forem as sanções, mais provável será forçar o regime iraniano a escolher entre avançar seu programa nuclear ou tratar de sua própria permanência no futuro", como diz o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
Israel despachou, nos últimos meses, delegações diplomáticas para, entre outros países, o Brasil e a China. Os chineses são o maior obstáculo para as "fortes sanções" desejadas, porque têm poder de veto no Conselho de Segurança. Para convencê-los, seria importante que países que também são contra sanções mas não têm poder de veto as apoiassem, casos de Brasil, Líbano e Turquia.
Netanyahu certamente voltará a conversar com Lula sobre o assunto, mas parece impossível que o governante brasileiro altere a sua posição, reiterada tantas vezes, de que não é conveniente "colocar o Irã contra a parede".
Outro território minado na visita é do processo de paz entre Israel e palestinos, em que o Brasil tem a declarada intenção de exercer um papel. Mas não é uma questão que se coloque agora, dado que o processo de paz está estancado, e seu mais recente sopro de vida cessou na antevéspera da chegada de Lula.
De todo modo, o processo de paz estará no cardápio de Lula, como está de qualquer visitante a Israel e aos territórios palestinos. E tende a ser outro ponto de atrito entre o brasileiro e seus anfitriões israelenses, mesmo que Lula pretenda manter uma posição equilibrada entre os lados em conflito.
Afinal, "os palestinos nada mais têm a oferecer neste estágio; estão sem um Estado e enfrentando duras realidades econômicas e sociais devido à continuação da ocupação israelense", como diz Mohamed Elmenshawy, editor-chefe da "Arab Insight", publicação de análises sobre Oriente Médio produzida pelo World Security Institute, baseado em Washington.
É puro sentido comum e, portanto, Lula pode repetir essa avaliação tanto em Israel como nos territórios palestinos. Se não o fizer, perde crédito com os palestinos. Se o fizer, Netanyahu discordará com certeza.
Pena que a efeméride venha acompanhada de uma divergência já contratada: "Sabemos que a posição do governo brasileiro sobre o Irã não coincide com a nossa", admite Dorit Shavit, a responsável por América Latina no Ministério de Assuntos Exteriores israelense.
O fundo da divergência é assim resumido por ela: "O governo brasileiro fala em engajamento, e nós sabemos que só sanções podem evitar que o Irã desenvolva a bomba".
Não se trata de um desacordo menor, desses que são comuns mesmo entre países com bom relacionamento entre si. Do ponto de vista do governo e da sociedade israelenses, é uma questão vital. As notórias e públicas ameaças do regime iraniano de varrer Israel do mapa poderiam passar de bravata a uma possibilidade real se o Irã tiver a bomba.
Por isso, explica-se o fato de Israel estar sendo quase tão ativo quanto os Estados Unidos na tentativa de convencer a comunidade internacional de que, "quanto mais fortes forem as sanções, mais provável será forçar o regime iraniano a escolher entre avançar seu programa nuclear ou tratar de sua própria permanência no futuro", como diz o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
Israel despachou, nos últimos meses, delegações diplomáticas para, entre outros países, o Brasil e a China. Os chineses são o maior obstáculo para as "fortes sanções" desejadas, porque têm poder de veto no Conselho de Segurança. Para convencê-los, seria importante que países que também são contra sanções mas não têm poder de veto as apoiassem, casos de Brasil, Líbano e Turquia.
Netanyahu certamente voltará a conversar com Lula sobre o assunto, mas parece impossível que o governante brasileiro altere a sua posição, reiterada tantas vezes, de que não é conveniente "colocar o Irã contra a parede".
Outro território minado na visita é do processo de paz entre Israel e palestinos, em que o Brasil tem a declarada intenção de exercer um papel. Mas não é uma questão que se coloque agora, dado que o processo de paz está estancado, e seu mais recente sopro de vida cessou na antevéspera da chegada de Lula.
De todo modo, o processo de paz estará no cardápio de Lula, como está de qualquer visitante a Israel e aos territórios palestinos. E tende a ser outro ponto de atrito entre o brasileiro e seus anfitriões israelenses, mesmo que Lula pretenda manter uma posição equilibrada entre os lados em conflito.
Afinal, "os palestinos nada mais têm a oferecer neste estágio; estão sem um Estado e enfrentando duras realidades econômicas e sociais devido à continuação da ocupação israelense", como diz Mohamed Elmenshawy, editor-chefe da "Arab Insight", publicação de análises sobre Oriente Médio produzida pelo World Security Institute, baseado em Washington.
É puro sentido comum e, portanto, Lula pode repetir essa avaliação tanto em Israel como nos territórios palestinos. Se não o fizer, perde crédito com os palestinos. Se o fizer, Netanyahu discordará com certeza.
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