quinta-feira, fevereiro 11, 2010

JANIO DE FREITAS

Nos ombros de Serra


Folha de S. Paulo - 11/02/2010


FHC, Sérgio Guerra e Tasso caíram na esparrela de Lula; quem pagará outra vez é o governador de São Paulo

POR MAIS QUE Lula avisasse do seu desejo de confronto plebiscitário com o PSDB, ainda assim Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Guerra, presidente do partido, e Tasso Jereissati caíram na esparrela -e quem vai pagar outra vez por ideias que nunca teve é José Serra.
Uma das causas da limitação eleitoral de Serra em 2002 foi não expor sua divergência frontal com a política econômica anticrescimento de Fernando Henrique, só apoiada pelas classes alta e média alta (o que ficou um tanto esquecido). Com tal cautela, Serra omitiu de sua campanha os temas de maior interesse do eleitorado, que eram sua pretendida política econômica e os projetos sociais. Enquanto Lula aproveitou e explorou os dois temas por si e por Serra. Só de novos empregos seriam 10 milhões, e nem é possível lembrar de quantas reformas.
Ainda que da fraude à realidade seja o mesmo que da campanha ao governo, os feitos do governo Lula, atabalhoados e descriteriosos embora, deixam o governo de Fernando Henrique sem condições reais de comparação. Nem mesmo com os truques de inverdade desvendados na
Folha por Gustavo Patu.
É, porém, com essa imensidão de incomparáveis que Fernando Henrique e seus dois acompanhantes identificam Serra para o eleitorado. E já o compelem a adotar na campanha, porque Lula e Dilma Rousseff não abandonam mais esse presente, o papel em que os três caíram. Então, ou Serra se omite outra vez e será criticado pelos próprios companheiros-candidatos do PSDB, ou pespega na testa corresponsabilidades que não tem e por muito de que discordava mesmo.
São notórias a velha competição entre Fernando Henrique e Serra, a relação muito precária entre Tasso Jereissati e Serra, e o desagrado de Sérgio Guerra com a maneira como Serra impôs sua (pré?) candidatura. Mas a mesma bomba duas vezes sobre a mesma vítima é um tanto excessivo. Inclusive porque José Serra parece não saber o que fazer.

Umazinha
Por falar em Serra, quando ele se queixa está, quase sempre, fora do tom e do momento. Sua queixa contra a insistência da TV Brasil, sobre o que diria da falta de água para 750 mil paulistanos, esqueceu-se de que a pergunta era incômoda, mas compensava um pouco o protetor silêncio de tantos meios de comunicação a respeito. Como de outras perversas sequelas, ainda tão vivas como sofrimento, das últimas semanas em São Paulo.

Uniformes
O registro se autojustifica: saiu-se muito bem no "Roda Viva", sobre sua missão no Haiti e temas correlatos, o coronel Carvalho Bernardes, com respostas competentes, seguras e, pouco usual no seu meio, bem formuladas.
Mas a entrevista realçou uma estranheza. Agora os oficiais do Exército vão à TV sempre em uniforme camuflado, indumentária de campanha. Os jornalistas são mais pacíficos do que podem parecer aos militares, mesmo ao general Maynard de Santa Rosa e seus fantasmas fanáticos. E, sobretudo, é uma atitude forçada demais para passar por autêntica. É mais fácil por ostentação de autoridade.
É claro que essas observações não se aplicam ao ministro Nelson Jobim com a indumentária camuflada de praça e a boina com o indevido emblema do Exército. Isso fica muito interessante em um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.

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