FOLHA DE SÃO PAULO - 04/02/10
É um jogo difícil: não amarrar o PMDB pode ser problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante
É um jogo difícil: não amarrar o PMDB pode ser problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante
A QUESTÃO DO VICE de Dilma Rousseff está engasgada por um obstáculo no qual nenhum dos que o conhecem pode falar. Embora, no fundamental, não seja ignorado por ninguém.
A interpretação mais difundida localiza a origem do problema na discordância entre a indicação mais natural do PMDB, que é o seu presidente Michel Temer, e a não declarada, mas insinuada preferência de Lula por algum outro peemedebista. De qualquer modo, então, seria um peemedebista, pela obviedade da contribuição esperada por Lula, para a pretendida eleição de Dilma, da engrenagem eleitoral peemedebista e do tempo de propaganda gratuita do PMDB.
A esses dois componentes da posição de Lula é atribuída sua ideia, não formalizada ao partido, mas reiterada de público algumas vezes, de que o PMDB deveria apresentar uma lista de três indicações para vice. Reiterações às quais se segue a conversa barata do "não sou eu que vou escolher, é a candidata", ou "é o PT", e outras lulices. O importante, nessas circunstâncias, é que o PMDB nem pode pensar em uma alternativa ao banho-maria em que Lula o mantém, supondo-se que possa ter alguma, nem pode impor-se com sua indicação. Apenas vagueia, há tempos, entre o constrangimento e a desconfiança.
A imensa conveniência eleitoral de que o PMDB é portador projetaria, quaisquer que fossem as peculiaridades da disputa sucessória, contrapartida custosa para o candidato de Lula e para o PT, se vitoriosos. Seria o chamado preço da vitória. Na atual disputa há, porém, um componente que eleva a contrapartida a um risco talvez maior do que a conveniência da aliança para a vitória menos duvidosa.
Tanto se soube que Dilma Rousseff estava doente como se sabe que foi curada. Não é provável que sofra uma recidiva, mas é possível, o que a deixa ainda por três a quatro anos sob vigilância constante. Se eleita, no caso improvável, mas possível de uma recidiva, não é desprezível a hipótese de uma passagem da Presidência ao vice.
Tal ocorrência significaria, por efeito de uma chapa PT-PMDB, o governo nas mãos dos peemedebistas. Ou seja, o fim da continuidade imediata do atual governo, com tudo o que esse propósito tem exigido de Lula, e da continuidade subsequente do lulismo em 2014, muitos acreditam que como projeto do e com o próprio Lula.
É um jogo difícil. Não amarrar o PMDB pode representar problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante. Jogo a ser jogado com luvas de veludo, e só com aliados de confiança extrema, como, entre pouquíssimos, Ciro Gomes. Porque nem a menor pista sobre a natureza da situação pode transparecer. Ou lançaria sobre a candidatura de Dilma Rousseff inseguranças muito perigosas.
A interpretação mais difundida localiza a origem do problema na discordância entre a indicação mais natural do PMDB, que é o seu presidente Michel Temer, e a não declarada, mas insinuada preferência de Lula por algum outro peemedebista. De qualquer modo, então, seria um peemedebista, pela obviedade da contribuição esperada por Lula, para a pretendida eleição de Dilma, da engrenagem eleitoral peemedebista e do tempo de propaganda gratuita do PMDB.
A esses dois componentes da posição de Lula é atribuída sua ideia, não formalizada ao partido, mas reiterada de público algumas vezes, de que o PMDB deveria apresentar uma lista de três indicações para vice. Reiterações às quais se segue a conversa barata do "não sou eu que vou escolher, é a candidata", ou "é o PT", e outras lulices. O importante, nessas circunstâncias, é que o PMDB nem pode pensar em uma alternativa ao banho-maria em que Lula o mantém, supondo-se que possa ter alguma, nem pode impor-se com sua indicação. Apenas vagueia, há tempos, entre o constrangimento e a desconfiança.
A imensa conveniência eleitoral de que o PMDB é portador projetaria, quaisquer que fossem as peculiaridades da disputa sucessória, contrapartida custosa para o candidato de Lula e para o PT, se vitoriosos. Seria o chamado preço da vitória. Na atual disputa há, porém, um componente que eleva a contrapartida a um risco talvez maior do que a conveniência da aliança para a vitória menos duvidosa.
Tanto se soube que Dilma Rousseff estava doente como se sabe que foi curada. Não é provável que sofra uma recidiva, mas é possível, o que a deixa ainda por três a quatro anos sob vigilância constante. Se eleita, no caso improvável, mas possível de uma recidiva, não é desprezível a hipótese de uma passagem da Presidência ao vice.
Tal ocorrência significaria, por efeito de uma chapa PT-PMDB, o governo nas mãos dos peemedebistas. Ou seja, o fim da continuidade imediata do atual governo, com tudo o que esse propósito tem exigido de Lula, e da continuidade subsequente do lulismo em 2014, muitos acreditam que como projeto do e com o próprio Lula.
É um jogo difícil. Não amarrar o PMDB pode representar problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante. Jogo a ser jogado com luvas de veludo, e só com aliados de confiança extrema, como, entre pouquíssimos, Ciro Gomes. Porque nem a menor pista sobre a natureza da situação pode transparecer. Ou lançaria sobre a candidatura de Dilma Rousseff inseguranças muito perigosas.
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