O BRASIL vai crescer entre 5% e 6% neste ano? Sempre acreditei nisso, mas começo a ter dúvidas. A pressão do mercado e o viés conservador da política monetária indicam que vem aí uma nova rodada de alta dos juros. Quando sobreveio a crise global, com a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, o BC procurou agir com cautela. Levou três meses para se convencer da gravidade da crise. Só em janeiro de 2009 começou a baixar os juros, num momento em que os demais bancos centrais já adotavam taxas reais negativas. Naquela época, a demora do estímulo monetário teve de ser compensada por medidas de política fiscal, principalmente o corte de impostos sobre bens duráveis e a redução do superavit primário do governo. Foram essas medidas que estimularam o consumo e iniciaram o processo de restabelecimento da confiança e a retomada econômica. Se fosse esperar pelo efeito da redução tardia dos juros, o país teria amargado uma recessão. O viés conservador se manifesta agora novamente. A economia terminou 2009 com crescimento zero, embora a recuperação da atividade fosse nítida no último trimestre. Os estímulos fiscais já estão sendo retirados e serão zerados até o fim de março. Seria o caso, portanto, em benefício da cautela, de manter os juros inalterados até que se tenha maior segurança sobre o ritmo da recuperação. Na verdade, haveria até espaço para uma redução da taxa, hoje a mais alta do mundo em termos reais. Desta vez, porém, parece que não haverá prudência. A ata da reunião do Comitê de Política Monetária, divulgada na semana passada, mostra que a elevação dos juros pode começar já na próxima reunião do Copom, em 16 de março. Justificativa: haveria uma retomada muito forte da atividade econômica, com riscos inflacionários, que estaria evidenciada no aumento da utilização da capacidade instalada da indústria. A capacidade instalada poderia ser, de fato, um fator preocupante, se ela desequilibrasse a oferta e a demanda de bens, porque nesse caso haveria pressão inflacionária. Mas tudo indica que a indústria está ainda muito longe desse ponto. Os níveis de utilização de capacidade tiveram queda no início do ano passado, chegando a 78%. Depois, houve aumentos desse índice para até 81% no último trimestre, nível ainda inferior ao do primeiro semestre de 2008. Além desse fator, no segundo semestre do ano passado prevaleceu uma clara tendência de retomada dos investimentos. Isso vai aumentar a capacidade instalada da indústria no médio prazo, tendência revelada pelo consumo de máquinas e equipamentos no último trimestre, que cresceu 18% em relação ao penúltimo. Há, portanto, duas constatações: nem o ritmo da economia está tão acelerado quanto prega o mercado amante dos juros altos nem existe uma pressão inflacionária tão ameaçadora provocada pela escassez de oferta. O mercado para exportações continua fraco, e vêm da Europa notícias inquietantes sobre recaídas da crise na Espanha, na Itália, na Irlanda, em Portugal e na Grécia. Ou seja, a tempestade passou, mas ainda não há céu de brigadeiro. A imposição de freios ao crescimento, portanto, é precipitada. Ainda que houvesse algum risco de a inflação ultrapassar um pouco o centro da meta -vale lembrar que o limite máximo é 6,5% em 2010-, seria recomendável apostar no crescimento. O momento vivido pelo país, de grande prestígio externo e confiança interna, permite um pouco mais de ousadia.
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