O planeta está realmente esquentando?
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/011/10
A mudança do clima, para mais quente ou para mais frio, ocorrerá com ou sem o nosso consentimento. Quem viver verá
ACABAMOS de assistir às principais lideranças mundiais reunidas em Copenhague para discutir os destinos do planeta diante da ameaça do aquecimento global antropogênico. Ironicamente, foram necessários muitos agasalhos, pois o frio de um inverno rigoroso já se anunciava.
A tese defendida pelo IPCC, de que o aquecimento é provocado pelo homem, baseia-se em três grandes pilares: as séries históricas dos desvios de temperatura global, as séries históricas de concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) e uma previsão de clima baseada no dobro da concentração de CO2.
As séries históricas dos desvios de temperatura global, nas quais se baseia o IPCC, mostram que, nos últimos cem anos, a temperatura média do planeta aumentou 0,6, mas, ao analisarmos os dados, notamos que esse crescimento não foi constante nem linear, pois houve períodos em que ocorreu redução da temperatura do globo.
Além disso, e mais curioso ainda, observamos na análise dos mesmos dados que, nos momentos em que a temperatura subiu, não há relação de proporcionalidade com o aumento de CO2, ou seja, não é possível, com base nessas séries históricas, afirmar que a temperatura aumentou em decorrência do aumento das emissões de dióxido de carbono.
Outra observação inquietante desses dados mostra que, entre 1943 e 1966, período em que o processo de urbanização se consolidava no mundo, associado ao crescimento econômico expressivo do pós-guerra, ocorreu redução de 0,18 na temperatura global.
Mais recentemente, a partir de 2005, os dados de temperatura média global baseada em dados de satélites divulgados pela Universidade do Alabama Huntsville (UAH) mostram uma tendência de resfriamento global. Contrariando as previsões dos ambientalistas, o planeta viveu entre 2007 e 2009, no Hemisfério Norte, invernos bastante rigorosos, com direito a uma nevasca histórica em Washington no último mês de dezembro e a inacreditáveis 34,6 negativos na Alemanha, onde, de acordo com o Serviço Alemão de Meteorologia, o inverno está sendo classificado entre os cinco ou dez mais frios dos últimos cem anos.
Os outros dois pilares do aquecimento antropogênico estão relacionados à concentração de CO2 na atmosfera. Segundo os que anunciam essa pseudocatástrofe, essa concentração nunca foi tão elevada quanto agora. Será?
Essa afirmação baseia-se inicialmente nos estudos de Guy S. Callendar, que, a partir de 1938, passou a pregar a influência humana no incremento da temperatura do planeta em decorrência da queima de combustíveis fósseis. É dele um estudo publicado em 1958 que afirma que a concentração média de CO2 atmosférico no século 19 era de 290 ppm (partes por milhão) e, no século 20, chegou a 320 ppm.
Estudos posteriores dos cientistas Fonselius, Koroleff e Wärme lançaram dúvida sobre a tese de Callendar, mostrando que, na verdade, ele teria escolhido a dedo seus dados.
A manipulação teve o objetivo de estabelecer uma suposta tendência de crescimento exponencial nos índices de concentração e de desprezar concentrações superiores ao patamar eleito por ele.
Nos dados desprezados, encontram-se concentrações superiores a 500 ppm já no século 19, mas elas tiveram de ser ignoradas para tornar defensável seu ponto de vista.
Afirma-se que o grande vilão do aquecimento global é o homem, por sua parcela de contribuição para o efeito estufa -retenção do calor pelos gases que apresentam concentração variável na atmosfera, entre eles o dióxido de carbono.
Um dado que tem sido ignorado, no entanto, é que 95% do efeito estufa é decorrente da concentração de outro gás: o vapor d'água. O CO2 corresponde somente a 3,6% do total. Mais grave ainda é que, desse percentual, o homem e suas máquinas respondem por apenas 0,1%. Por essa razão, o climatologista Marcel Leroux disse que "na atmosfera do IPCC não há água".
Entramos recentemente numa nova fase fria do oceano Pacífico e enfrentamos um ciclo de manchas solares que tem apresentado uma atividade muito baixa, como se esperava com os ciclos de Gleissberg.
Isso deve nos levar, ao contrário do que anunciam os profetas do apocalipse climático, a um novo período de resfriamento global, apesar do El Niño deste ano.
O fato é que as temperaturas globais são reguladas por fenômenos naturais de âmbito sistêmico. A mudança do clima, para mais quente ou para mais frio, ocorrerá com ou sem o nosso consentimento. Quem viver verá!
GUSTAVO M. BAPTISTA, 40, doutor em geologia, é professor adjunto da UnB (Universidade de Brasília) e autor do livro "Aquecimento Global: Ciência ou Religião?"
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