Por toda a parte espocam advertências de que a economia mundial está produzindo novas e perigosas bolhas de ativos. Desta vez, não é mais o esticão nos preços dos imóveis e os empréstimos hipotecários que despertam preocupações. O suspeito da hora é a disparada das commodities, especialmente das matérias-primas metálicas. Mas há quem meta nesse mesmo saco o mercado de ações.
O gráfico mostra o comportamento de um dos principais índices medidores dos preços das commodities, o Commodities Research Bureau (CRB), que avançou 28,4% no período de 12 meses terminado em 15 de janeiro.
Como acontece em todos os acidentes da aviação, está errado atribuir essa alta a apenas um fator isolado. É sempre um conjunto deles. Tem a ver com o bom desempenho das economias emergentes, especialmente a da China, e, também, com a recuperação dos negócios nas economias dos países ricos. Sugerem, ainda, a volta da formação de estoques que haviam caído com a crise e o estancamento do crédito. Mas o principal fator por trás do avanço dos preços das commodities é a existência de uma enorme liquidez global. Essa liquidez é o resultado da atuação de tesouros nacionais e bancos centrais durante a crise, que, conjuntamente, devem ter injetado alguma coisa próxima dos US$ 10 trilhões, com o objetivo de impedir a prostração da economia mundial numa provável depressão.
Há plena consciência de que, mais cedo ou mais tarde, tesouros e bancos centrais terão de trazer essa dinheirama de volta para casa. Se é verdade que a origem da crise de 2008 foi o excesso de moeda emitida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), deixar que esses US$ 10 trilhões extras girem pelos mercados e inflem novas bolhas de ativos implica deixar que se forme uma crise ainda pior mais à frente. Essa é a razão pela qual os presidentes dos grandes bancos centrais aproveitam toda a ocasião que têm para avisar que, daqui a pouco, irão começar a operação de enxugamento da liquidez também conhecida por "estratégia de saída".
O problema é que ninguém consegue enxergar como isso poderá acontecer sem colocar em risco a recuperação da atividade econômica ainda frágil.
O desemprego continua aumentando nos países ricos. A União Europeia enfrenta não apenas o crescimento do déficit orçamentário da maioria dos seus membros, mas, também, o vencimento do prazo de ajuda ao desemprego. A Alemanha tem 6 milhões de trabalhadores contemplados com subsídios do emprego de jornada reduzida (kurzarbeit) cujos contratos vencem, na sua maioria, em março e abril.
É essa síndrome que leva alguns economistas (entre eles, Nouriel Roubini, que previu a crise) a advertir que a atual recuperação despencará numa forte recessão a ser revertida mais adiante. É o que, segundo eles, desenhará nos gráficos a linha em formato de W, que provocaria um montão de mortos e feridos antes que a última perna do W se pusesse novamente de pé.
Se o quadro de recaída de fato se confirmar, ficará também inviabilizado qualquer programa de enxugamento de liquidez pelos bancos centrais. E aí será preciso ver até que ponto os próprios bancos centrais conseguirão evitar a formação das tais novas bolhas de ativos.
Confira
Surpreendentemente alto - O rombo da balança comercial nas primeiras semanas do ano ficou perto de US$ 1 bilhão. E não foram as exportações que caíram (elas subiram 6,2%). Foram as importações que cresceram ainda mais (13,5%).
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