Primeiro foi a Câmara, depois o Senado e, fechando um ano devastador para os políticos brasileiros, o governo de Brasília. Corruptos petistas, tucanos e demos (o PMDB é hors-concours) foram denunciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha, peculato e suborno. Além da falta de vergonha na cara, o que todos eles têm em comum? Todos dizem que ninguém roubou para si, mas para a campanha, para o partido. O caixa dois é uma nefasta tradição brasileira, todos lamentam, mas é consequência do nosso sistema eleitoral. Sem reforma política, não há salvação, gritam os ladrões. E continuam roubando, pela causa, é claro. Ou pela calça, onde enfiam o dinheiro.
Entre a causa e a calça, está se criando no Brasil uma brasileiríssima jurisprudência ética que considera a corrupção para financiar campanhas e ações políticas um delito leve, muito menor do que roubar para uso próprio. Aqui, até mesmo matar, por motivos políticos, é considerado um atenuante da culpa: “Não foi por mim, foi pelo partido, pela causa, pelo povo.” Mas, como não dá para absolver os companheiros e condenar os adversários pelos mesmos crimes, agora eles se defendem em bloco e atacam o sistema eleitoral.
Em países civilizados, com maior tradição jurídica do que o Brasil, como a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, a motivação política é um agravante dos crimes. Porque o roubo servirá para fraudar processos legais, para atentar contra as instituições democráticas e terá consequências na vida de todos os cidadãos.
O ladrão em causa própria dá prejuízos pontuais a pessoas físicas ou jurídicas, ou ao Estado. O que usa o dinheiro sujo para fraudar o processo eleitoral e manipular a vontade popular, para corromper políticos e juízes, para impor a sua causa, causa irreparáveis prejuízos a todos porque desmoraliza a democracia, institucionaliza a impunidade e interfere — sejam lá quais forem as suas intenções — de forma decisiva e abusiva nos direitos e na vida dos cidadãos.
Quem acredita que com financiamento público de campanhas eles vão parar de roubar? O problema não é o sistema, é a qualidade dos usuários.
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